Outras alternativas, como renovação de frota e produção de aeronaves híbridas, elétricas e movidas a hidrogênio, estão na mira das cias aéreas
Enquanto o setor aéreo tenta ampliar o uso de SAF, o combustível sustentável de aviação, para cumprir a meta de descarbonização do setor, fabricantes discutem e avançam com outras alternativas, como renovação de frota e produção de aeronaves híbridas, elétricas e movidas a hidrogênio.
Há alguns desafios pela frente, no entanto. Em junho, durante evento para jornalistas em São José dos Campos (SP), a Embraer voltou a citar sua estratégia para o desenvolvimento de aeronaves híbridas e movidas a hidrogênio para as próximas décadas.
A fabricante havia anunciado, em 2021, a Energia Family, um grupo do que a empresa chama de aeronaves conceito, desenvolvidas para ajudar a indústria a alcançar a meta de zero emissões de carbono até 2050.
Os projetos passaram por alterações. Se no começo alguns dos aviões apresentados previam apenas nove assentos, agora a Embraer projeta até 50 assentos para os projetos. Embora avalie aeronaves de diferentes capacidades, a fabricante diz estar voltando seus esforços para versão de maior porte. A expectativa é que essas novas tecnologias fiquem disponíveis ao mercado no decorrer da próxima década.
Em um evento promovido pela Iata (Associação Internacional de Transporte Aéreo) no Chile em abril deste ano, Sergey Paltsev, do MIT (Instituto de Tecnologia de Massachusetts), disse que o SAF não pode ser a única alternativa para a descarbonização do setor.
Paltsev apresentava a dezenas de executivos do setor um estudo apoiado pela Airbus e pela Latam sobre sustentabilidade no setor. “Não dá para pensar que vamos produzir SAF e
a emissão de carbono vai zerar. Isso não vai acontecer”, disse ele na ocasião.
A opinião é compartilhada por Sergio Quito, que faz parte do conselho de segurança da Gol. Segundo ele, além de ter um custo elevado, o SAF não dá conta de garantir, sozinho, a descarbonização do setor. O combustível sustentável consegue reduzir até 80% das emissões -ou seja, também polui, mas em quantidade menor.
A Iata estabeleceu a meta de zerar as emissões de carbono do setor até 2050. Segundo a entidade, os esforços abrangem não só as companhias aéreas, mas também fabricantes e aeroportos, por exemplo.
Quito explica que as aeronaves eletrificadas estão sendo pensadas inicialmente para voos regionais, em distâncias menores. Outra saída, segundo ele, é a fabricação de aviões movidos a hidrogênio.
No começo de julho deste ano, a American Airlines anunciou a compra de cem motores a hidrogênio produzidos pela ZeroAvia, empresa que está desenvolvendo a tecnologia. Segundo a companhia, o motor seria usado para aviões que realizam rotas regionais.
A tecnologia da ZeroAvia usará hidrogênio para gerar eletricidade, que posteriormente alimentará os motores elétricos que giram as hélices da aeronave. Segundo a American Airlines, a única emissão durante o voo é de vapor de água a baixa temperatura. Quito afirma que os projetos deverão ser acessíveis ao público e, por isso, o número de assentos não pode ser baixo.
“No momento que aumenta o número de assentos, baixa o custo. Caso contrário, a precificação se tornaria proibitiva para o usuário. Um voo com poucas pessoas acarretaria um aumento no preço da passagem”, afirma.
Guillaume Gressin, vice-presidente de operações internacionais, estratégicas e comerciais da Airbus América Latina, afirma que a hibridização dos sistemas de propulsão das aeronaves será uma das tecnologias para a fabricante reduzir o consumo de combustível e aumentar a eficiência térmica dos motores.
No entanto, ele diz que a empresa irá investir em outras alternativas. Uma delas é a renovação da frota, com o desenvolvimento de aviões mais eficientes. Segundo Gressin, aeronaves de geração antiga, que poluem mais, representam cerca de 70% das frotas das companhias aéreas atuais.
A Airbus planeja colocar em operação uma aeronave movida a hidrogênio até 2035. Em 2020, a companhia divulgou o desenvolvimento de aeronaves movidas a hidrogênio, chamados ZEROe -algumas com capacidade para até 200 passageiros. A fabricante diz que não tem uma data para o início de operações de uma aeronave elétrica.
Procurada pela reportagem, a Boeing citou como algumas das iniciativas adotadas para reduzir as emissões de carbono a renovação de frota e a utilização de SAF. A fabricante americana, que passa por uma crise de reputação e que recentemente se declarou culpada por fraude em um caso envolvendo dois acidentes fatais com o 737 Max, afirma que tem desenvolvido estudos específicos por região para analisar potenciais matérias-primas de SAF. As pesquisas abrangem países como Brasil, Reino Unido, Estados Unidos e Japão.
(Folhapress)