A derrota do PT na disputa pela Prefeitura de Belo Horizonte aumentou um racha existente no partido em Minas Gerais entre dois grupos da legenda que já se enfrentaram no passado. A discussão, que antes ocorria apenas internamento, extrapolou para as redes sociais e, segundo fontes ouvidas pela coluna Aparte, teria como fim uma disputa por uma cadeira no Senado Federal em 2026 e o processo de eleições internas (PED) do PT, que acontece no próximo ano.
Os grupos são liderados pelo presidente do partido em Minas, deputado estadual Cristiano Silveira, de um lado, e pelo deputado federal Rogério Correia, do outro. A entrada do partido na disputa pela capital mineira este ano, sob o nome de Rogério Correia, é o epicentro do conflito mais recente entre os dois grupos. A ala de Silveira queria o PT apoiando a reeleição do prefeito Fuad Noman (PSD), argumentando que o partido deveria apoiar um candidato democrático com mais chances de vencer. Rogério, porém, saiu vitorioso na discussão interna, que envolveu inclusive instâncias superiores do partido. Ele amargou, no entanto, o sexto lugar na disputa, com 4,37% dos voto.
A partir desse resultado, a briga chegou inclusive às redes sociais, com integrantes dos dois grupos se atacando publicamente, mas sem citar o nome do rival correligionário. No fim de semana seguinte às eleições, o deputado federal Reginaldo Lopes (PT), que pertence ao grupo de Silveira, fez uma publicação no X (antigo Twitter) chamando a performance do PT de “decepcionante”.
Silveira, em postagem, concordou com a análise do aliado. Como resposta à publicação, Rogério afirmou, também nas redes sociais, que tem sido atacado por posições oportunistas internas no PT visando 2026, e que “alguns traíram nossa luta e proclamam traições maiores”. “(…) Em Minas, o traidor é conhecido. Hipocrisia, desonestidade e fraqueza moral e intelectual (…)”, escreveu Rogério.
O tom rude das postagens é a preliminar do que os dois grupos estão por enfrentar, conforme interlocutores das duas alas beligerantes. A primeira tem relação com as eleições de 2026. O pleito deste ano envolverá, além da disputa pela Presidência da República, governadores, deputados federais e estaduais, duas vagas para o Senado. Uma, dentro do conjunto de partidos que poderá estar junto ao presidente Lula em 2026, está destinada à indicação do PSD. A outra caberá ao PT, e está sendo disputada pelas alas de Silveira e Rogério. O outro confronto latente nas declarações de integrantes dos dois grupos é a disputa pelo comando do partido no ano que vem, quando serão escolhidos novos dirigentes da legenda em todo o país.
Para frente e para trás. A disputa entre as duas alas do PT em Minas não faltou também à eleição para o comando da capital em 2020, quando o grupo de Rogério Correia queria apoiar a candidatura de Áurea Carolina (Psol). Seus rivais internos, porém, desta vez, em posições invertidas em relação ao pleito de 2024, venceram a queda de braço e conseguiram uma candidatura própria, com Nilmário Miranda, que teve 1,88% dos votos válidos.
Em conversa com O TEMPO, o presidente estadual do PT, Cristiano Silveira, admitiu que existe um “problema a ser resolvido dentro do PT”, mas disse que as discussões internas entre grupos e correntes dentro do partido seria algo cultural que sempre fez parte da legenda. Ele destacou, ainda, que concorda com Reginaldo Lopes de que é preciso pensar no discurso do partido e como ele dialoga com certos grupos da sociedade, e argumentou que a esquerda “está muito difusa”.
“Agora temos novos desafios, nova sociedade, novo contexto econômico, e o partido precisa se atualizar. O Reginaldo ter iniciado essa discussão foi super válido, e a repercussão que estamos tendo é que todos os filiados e eleitores querem contribuir e conversar sobre isso. Eu poderia falar que em Minas está tudo bem, já ampliamos as prefeituras, e fizemos um número grande de vereadores. Mas em Belo Horizonte nós não fomos bem, e isso não é novo, a gente não vai bem há muito tempo. Então o que esta havendo com o PT? É o perfil do candidato? É a forma de fazer campanha? Precisamos, sim, fazer uma avaliação”, afirmou.
Por meio de nota, Reginaldo Lopes afirmou que defende “uma análise profunda da sociedade brasileira e dos caminhos que podemos tomar para que o PT retome sua essência: a de um partido que projeta o futuro e transforma realidades”. “O Brasil está em um momento que exige de nós mais do que respostas prontas; precisamos de autocrítica, mas no sentido de responsabilidade, não de culpabilização. Quero chamar toda a militância para essa reflexão. Somos nós, que conhecemos a história e a força do partido, que devemos mostrar como podemos fazer melhor. Esse é o propósito das minhas postagens diárias: provocar o pensamento crítico e discutir como podemos fortalecer o PT e o futuro do Brasil”, destacou.
Questionado se os conflitos com correligionários têm a ver com a briga por vaga para disputa pelo Senado em 2026 e com as escolhas de novos dirigentes partidários no ano que vem, o deputado federal Rogério Correia afirmou ser muito cedo para haver divergências sobre as duas discussões.