Mesmo inelegível até 2030 por condenação do TSE, Bolsonaro já organiza viagens a Minas Gerais com presença certa, mas ainda sem datas, em Belo Horizonte e Juiz de Fora. A condenação do ex-presidente foi por abuso de poder político e uso indevido de meios de comunicação ao realizar, em julho de 2022, reunião com embaixadores para afirmar, sem provas, que as urnas eletrônicas que seriam usadas nas eleições de outubro do mesmo ano não eram confiáveis.
Mas, para seus “apadrinhados”, a condenação não afeta a capacidade de Bolsonaro de atrair votos. O deputado estadual e pré-candidato à Prefeitura de Belo Horizonte Bruno Engler (PL) é um dos que apostam na influência do ex-presidente como cabo eleitoral. O parlamentar aguarda a visita de Bolsonaro para lançar oficialmente sua pré-candidatura. Procurado para falar sobre a participação do ex-presidente em sua campanha, Engler não retornou o contato.
Do outro lado da disputa em Belo Horizonte, o deputado federal Rogério Correia (PT) conta com a bênção de Lula. Ele diz ser importante que o prefeito da capital seja alinhado ao governo federal e que o presidente terá uma influência expressiva nas eleições na cidade. “Pretendo fazer a ligação Lula-BH”, afirmou o parlamentar.
Correia avalia que obras importantes para a capital nas áreas de saneamento básico e moradia, por exemplo, são caras e precisam de investimentos do governo federal. “Eu, como vice-líder do presidente, tenho a responsabilidade de mostrar (aos eleitores) o que o governo Lula pode fazer”, disse o deputado.
O ex-deputado federal Charlles Evangelista (PL) também aposta no ex-presidente na tentativa de se eleger prefeito de Juiz de Fora. Diferentemente de Belo Horizonte, Bolsonaro já estaria com data marcada para ir à cidade: 6 de setembro – dia em que, durante pré-campanha pela Presidência no local, em 2018, ele foi vítima de uma facada.
“Acho que não só em Juiz de Fora, mas em todas as outras grandes cidades, principalmente as administradas pelo PT, há uma tendência natural de ser polarizada (a disputa) entre PT e PL, Lula e Bolsonaro. A gente acredita que em Juiz de Fora não vai ser diferente”, analisou o ex-deputado.
Prefeita da cidade e pré-candidata à reeleição, Margarida Salomão (PT) tem avaliação diferente. Para ela, nas disputas estaduais e nacionais é que as polarizações são mais fortes. “No caso das disputas municipais, são os problemas locais que predominam”, disse a petista. “Temos em Juiz de Fora uma discussão muito grande sobre sustentabilidade da cidade”, acrescentou a prefeita, citando, nesse sentido, o planejamento de obras para contenção de encostas para evitar deslizamentos e mortes nos períodos chuvosos.
Margarida, porém, mesmo reforçando a necessidade de discutir problemas locais, também pretende usar a influência do presidente da República em sua campanha. “Só se eu fosse louca de não ‘usar’ Lula”, afirmou, lembrando que o petista sempre foi o candidato à Presidência mais votado na cidade em todas as eleições que disputou.
Problemas locais devem se sobrepor à polarização nacional
Em Contagem, terceiro maior colégio eleitoral de Minas, com cerca de 450 mil eleitores, a expectativa é que os temas locais prevaleçam durante a campanha eleitoral, mas os pré-candidatos Marília Campos (PT), que tentará a reeleição, e Cabo Junio Amaral (PL) sabem do potencial de seus cabos eleitorais nacionais, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva e o ex-presidente Jair Bolsonaro, respectivamente.
A prefeita Marília Campos afirmou que “cada vez mais vai discutir Contagem”. Ela acredita que a população, durante a campanha, vai analisar o que os candidatos já fizeram ou pretendem fazer pela cidade. “Vou discutir os avanços que conseguimos neste governo e a continuidade das políticas que tornaram a cidade melhor nesses quase quatro anos, com mais emprego, asfalto novo, mais saúde, educação digital e obras de combate a enchentes”, disse Marília.
Sobre uma possível visita do presidente da República ao município para a campanha eleitoral, a prefeita disse ainda não saber se isso ocorrerá, mas não descarta a possibilidade. “No momento certo, vamos avaliar”, pontuou a petista.
Rival da prefeita, o deputado federal Junio Amaral afirma que sua campanha na cidade será uma mistura de temas locais com nacionais. “As pessoas querem as escolas e os postos de saúde funcionando, mas estão atentas também ao debate nacional, como, por exemplo, o que trata da ideologia de gênero”, disse o parlamentar. Conforme Amaral, o ex-presidente Jair Bolsonaro deverá participar de ato de sua pré-campanha em Contagem, na segunda quinzena de julho.
Em Uberlândia, PL enfrentará ex-aliado
Nas eleições deste ano em Uberlândia, o segundo maior colégio eleitoral de Minas Gerais, além de refletir a polarização nacional PT/PL, tudo indica que haverá também um embate entre, de um lado, um puxador de votos local e, do outro, um expoente nacional. Dentro dos limites da cidade do Triângulo Mineiro, a liderança é o prefeito Odelmo Leão (PP), que está em segundo mandato e soma ainda outras duas vitórias em eleições anteriores.
Do outro lado poderá estar Jair Bolsonaro (PL). O gabinete do pré-candidato do PL, o deputado estadual Caporezzo, garante que o parlamentar será apoiado pelo ex-presidente no município. Por sua vez, Odelmo Leão lançou como pré-candidato o vice-prefeito Paulo Sérgio (PP).
Fato curioso é que Odelmo pediu votos para Jair Bolsonaro na eleição presidencial de 2022, mas afirmou que, agora, colocou seu vice na pré-campanha por fidelidade. “(Paulo Sérgio) foi um dos únicos que estiveram ao meu lado na consolidação de Uberlândia como potência do interior brasileiro, com muita seriedade e compromisso com o povo”, disse o prefeito. Procurado, Caporezzo não retornou o contato.