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Fenômeno do polywork ganha destaque e provocamudança no mercado de trabalho
A responsabilidade da vida adulta traz consigo custos, tanto simbólicos, quanto financeiros. Enquanto adultos, desfrutamos da liberdade de fazer nossas próprias escolhas de compra, mas também enfrentamos despesas como contas mensais, compras de supermercado e gastos inesperados. Uma maneira pela qual a nova geração enfrenta os desafios financeiros, é através do polywork.
O fenômeno do polywork está ganhando destaque entre os jovens da geração Z, que optam por manter dois empregos ao mesmo tempo.
Segundo informações atualizadas da PNAD Contínua referente ao terceiro trimestre de 2023, 544.691 brasileiros entre 14 e 29 anos afirmaram ter duas ocupações, enquanto 27.907 pessoas dessa faixa etária declararam estar engajadas em três ou mais atividades remuneradas.
Esses dados englobam tanto ocupações formais quanto informais. Ao invés de aderir ao modelo convencional de um único emprego, essa nova geração está escolhendo uma abordagem mais dinâmica e diversificada para as trajetórias profissionais.
O fenômeno, também chamado de politrabalho, surgiu já na geração millenials, e era chamado de “bico”, ou seja, aquele trabalho que era realizado em poucas horas, além do emprego fixo e com horário integral.
São diversas as razões por trás do crescimento do polywork. A tecnologia, sem dúvida, desempenhou um papel fundamental ao facilitar a conexão entre talentos e oportunidades. A geração Z valoriza a flexibilidade e a autonomia.
No Brasil, assim como em outros lugares, essa tendência está se acelerando. Os profissionais brasileiros estão cada vez mais buscando diversificar suas atividades, seja para explorar novos campos, seja para garantir uma rede de segurança financeira.
Isso está levando a uma mudança significativa no mercado de trabalho, com empresas e profissionais buscando se adaptar a nova realidade. Muitas empresas adotaram, inclusive, o modelo de trabalho híbrido, para facilitar o processo.
Séries renomadas também já traziam o fenômeno. Em “Todo Mundo Odeia o Chris”, temos um exemplo. Julius, o pai do Chris, tinha dois empregos, e o objetivo sempre foi o aumento de renda – mesmo assim, ele era pão duro! -. A fala de Rochelle na série se gabando pelo marido ter dupla jornada, faz sucesso até hoje. Mas certamente não chamava isso de polywork.
É importante você já ser alertado que esse é um texto de um cara que fez 40 anos em junho de 2024. Ou seja, é grande a chance de serem palavras carregadas daquele ressentimento que uma geração costuma ter com a outra.
Bom, a gente precisa levar em consideração que, no inconsciente coletivo do mercado, essa é uma geração que chegou cheia de exigências e querências.
“Eu só trabalho se for com propósito, qualidade de vida é fundamental, mais importante que ter coisas é ter experiências, só trabalho em empresas que me entendem e não admito chefe que me dê ordens”, e por aí vai…É fato que é assim que as pesquisas e os contratantes enxergam a média dessa galera. E outra… estão errados?
A referência da geração Z é a minha, que está no auge da produtividade. Graças a Justiça Divina, eu consegui construir um caminho que eu considero minimamente saudável, mas alguns dos meus amigos estão extremamente frustrados profissionalmente, trabalhando em empresas que eles não admiram, vendendo tempo com a família para um CNPJ que paga bem, mas obriga o funcionário a achar que só vai ser “bem-sucedido” se virar chefe, tendo que gastar boa parte do salário com ansiolítico e terapia.
Assim, acredito que parte da minha geração está toda “ferrada da cabeça”, sem vontade de levantar da cama, querendo vender tudo que conquistou para mudar para praia, porque disseram que sucesso era ter estabilidade, casa e carro. A gente conquistou tudo isso e sente um vazio no CPF. É natural que a geração que viesse depois olhasse para a gente dizendo no dialeto deles: “viado, eu não quero isso pra mim”. Que merda!!!…(risos)
Só que abrir mão da lógica do capitalismo tem seu preço. É menos complexo decidir ser assim quando se tem o suporte de uma família que banca suas decisões. Quando começa a chegar a necessidade de andar com as próprias pernas, pode ficar mais tenso querer ter tantas exigências.
Simplesmente porque isso pode fazer com que, talvez, o profissional não fique muito tempo em lugar nenhum, porque eu concordo que as empresas obrigatoriamente precisam ter e praticar o próprio propósito, mas aluguel de prédio e folha de pagamento não se pagam com propósito, se pagam com lucro. E, para dar lucro, as empresas precisam equilibrar propósito e faturamento… muita gente não entende e não concorda. É um jogo realmente difícil.
Se você tem esse comportamento legitimamente altruísta e autêntico, talvez seja difícil crescer na carreira rápido como você gostaria. De novo, eu não estou aqui para dizer que você está certo ou errado, eu também não acho que dizer amém para tudo que um contratante diz é o melhor caminho.
Mas jogar um jogo se colocando sempre como o astro da partida pode ter um preço… de conseguir empregos que te dêem o que você quer no preço que você exige. Ter outro trabalho ao mesmo tempo pode ser uma saída? Talvez, até mesmo porque muitas empresas já estão abertas a modelos de trabalho baseados em entrega, e não em horas na frente do computador.
Até mesmo porque produtividade é algo muito relativo. O mesmo trabalho pode ser executado em 15 minutos ou em 4 horas, dependendo das habilidades e da experiência de quem faz.
Se a pessoa é boa a ponto de entregar bem em menos tempo, ela pode fazer isso pra dois contratantes em paralelo sem crise… mas ela tem que ser MUITO boa pra isso.
As novas regras já permitem algum nível de flexibilização, que veio com a pandemia. O teletrabalho e o home office já estão minimamente regulamentados e cabem bem nessas discussões.
Mas, diante de tudo isso, deixa eu perguntar um negócio aqui… será que esse antídoto não pode virar um veneno? Se a ideia é ter mais qualidade de vida ou propósito, ter mais empregadores não pode exigir além da conta do seu psicológico a ponto de você bugar?
Será que, em vez disso, não é melhor pensar logo em empreender, em vender a sua força de trabalho em forma de consultorias ou serviços específicos? Trabalhar em mais lugares, não me parece a solução. Mas essa é só a minha opinião.
Eu, realmente, fico preocupado com quem vem depois de mim. Essa galera já está trabalhando comigo, e eu fico muito feliz com tanta cabeça nova ajudando todo mundo a olhar para frente de um jeito mais diverso, como tem que ser. Tomara que todo mundo consiga chegar num denominador comum. Palavra de um quarentão com várias ocupações ao mesmo tempo, ou seja, talvez eu nem seja a melhor pessoa pra falar sobre isso. Mas fico feliz se eu consegui te fazer pensar sobre!
Bom, para ajudar mais ainda, segue algumas dicas para quem quer ou pratica o polywork:
Regulamentação e aspectos legais
A CLT não possui nada que proíba o trabalhador de ter dois trabalhos, mas é conveniente que o trabalhador se atente às restrições.
Cláusula de exclusividade:
Se no contrato existir esta cláusula, é inviável a possibilidade de dois trabalhos simultâneos (no caso de trabalhos com carteira assinada).
Jornada de trabalho:
As atividades devem ser realizadas em horários distintos, para que não haja conflito. De acordo com a legislação trabalhista, o padrão estabelecido é que cada contrato de trabalho possa demandar até 44 horas semanais, no entanto, certos empregos oferecem horários flexíveis, permitindo que o empregado trabalhe com base em tarefas específicas
Há situações em que a empresa pode rescindir o contrato de um funcionário que está envolvido em polywork por justa causa. Isso pode ocorrer se houver circunstâncias previstas no artigo 482 da CLT, como:
- Incoerência de conduta
- Ato de indisciplina ou insubordinação
- Violação de segredo da empresa
As regras variam dependendo se a contratação é feita por meio de Pessoa Jurídica (PJ) ou regime CLT.
Cuidar da saúde mental é importante
A tentativa de realizar várias atividades simultaneamente pode prejudicar uma pessoa se não for tratada e gerenciada adequadamente. Embora o polywork possa abrir diversas oportunidades financeiras ou profissionais, é importante sempre lembrar de fazer pausas regulares, pois o trabalho em excesso pode levar ao esgotamento mental.
Tirar um tempo para descansar de qualquer tipo de trabalho ou atividade é essencial para cuidar da nossa saúde física e mental. Fazendo isso, você estará preparado para alcançar e realizar seus objetivos no futuro.
Por Alexandre Magno