No entanto, tanto o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, quanto o presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva (PT), optaram por não mencionar a data, em um momento de intensa pressão para reduzir os gastos públicos.
Recentemente, Lula tem se pronunciado com mais frequência sobre questões econômicas, com ênfase no mercado de câmbio e em suas críticas ao presidente do Banco Central (BC), Roberto Campos Neto.
Em uma entrevista à Rádio Sociedade nesta terça-feira (2), em Salvador, na Bahia, Lula classificou a alta do dólar como um “ataque especulativo” e citou um “jogo de interesse especulativo contra o real nesse país”. Ele também reiterou suas críticas ao presidente do BC, afirmando que “não dá para dirigir a autoridade monetária com ‘viés político’”.
O ministro Fernando Haddad, por sua vez, atribuiu na segunda (1) e também nesta terça-feira (2) a recente alta do dólar a “muitos ruídos” de comunicação e reconheceu que a moeda norte-americana subiu mais em relação ao real do que em comparação com outras moedas de países emergentes. Haddad defendeu a necessidade de uma melhoria na comunicação do governo para transmitir melhor os resultados econômicos.
Em resposta a essas declarações, o dólar comercial atingiu a máxima de R$ 5,70 nesta terça-feira (2). O aumento da moeda norte-americana frente ao real tem sido constante nas últimas semanas, refletindo a preocupação dos investidores com as contas públicas brasileiras.
Historicamente, Lula foi um crítico do Plano Real, argumentando que a política econômica que originou o plano não resolveria os problemas estruturais da economia brasileira e que os benefícios da estabilização da moeda seriam temporários, afetando de maneira desigual as diferentes classes sociais.
Agora, em seu terceiro mandato e enfrentando críticas sobre a condução da área econômica, Lula se depara com as metas fiscais e de inflação, pilares do Plano Real, que atualmente representam um desafio para o governo.
As metas fiscais exigem um controle rigoroso dos gastos públicos para manter o déficit dentro de limites estabelecidos, frequentemente entrando em conflito com a agenda do governo de aumentar investimentos para reduzir desigualdades e estimular o crescimento econômico.
Este aumento nos gastos pode gerar pressões inflacionárias, combatidas com políticas monetárias restritivas, como a elevação das taxas de juros. Estas políticas são alvo de críticas do governo Lula.
Assim, a comemoração dos trinta anos do Plano Real ocorreu em um cenário de tensão econômica, onde o governo precisa equilibrar a necessidade de controle fiscal com a promoção de crescimento e redução das desigualdades sociais.
Apesar das tensões, o presidente Lula encontrou-se com o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso em sua residência no bairro de Higienópolis, na região central de São Paulo, em 24 de junho.
Na mesma data, FHC recebeu a visita dos economistas Persio Arida, Pedro Malan e Gustavo Franco, que participaram da elaboração do Real.
O encontro ocorreu dias após o aniversário de 93 anos de FHC, celebrado em 18 de junho. FHC governou o Brasil por dois mandatos consecutivos (1995-2002), derrotando Lula no primeiro turno em ambas as eleições.
Tradicionalmente adversários, os dois políticos mantiveram uma relação de rivalidade ao longo das décadas. No entanto, durante as eleições de 2022, FHC declarou apoio a Lula no segundo turno contra Jair Bolsonaro (PL), marcando uma reaproximação.