22/11/2024
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Itália diz ao Brasil estar preocupada com briga no STJ por controle da Usiminas

Itália diz ao Brasil estar preocupada com briga no STJ por controle da Usiminas

Em cerimônia realizada em Ímola, em 1º de maio deste ano, o ministro das Relações Exteriores italiano, Antonio Tajani, se encontrou com o colega brasileiro. Os dois tinham mais a conversar além do legado do piloto Ayrton Senna, homenageado nas três décadas de sua morte.

Tajani levantou a preocupação do país europeu com a disputa no STJ (Superior Tribunal de Justiça) envolvendo a CSN (Companhia Siderúrgica Nacional) contra Usiminas e Ternium. Esta última faz parte do conglomerado ítalo-argentino Techinit, fundado em Milão em 1945.

O tema é tão prioritário para a Itália que existe a expectativa de que ele seja abordado pela primeira-ministra Giorgia Meloni no encontro com Lula durante a reunião do G7, o grupo das sete maiores economias do mundo, neste final de semana.

O governo de Meloni considera existir risco de uma insegurança jurídica para investimentos italianos no Brasil, a depender de decisão do STJ nesta terça-feira (18). Para esta data, está na pauta o voto final em recurso apresentado pela CSN sobre o controle acionário da Usiminas.

Após o encontro em Ímola, Tajani mandou carta a Vieira citando o litígio no STJ, mas ressaltando respeitar a independência do judiciário brasileiro. Comentou a necessidade de continuar a parceria de investimentos entre os dois países, com o Brasil mostrando ser receptivo ao que a diplomacia italiana chama de “investimentos produtivos.”

Em novembro de 2011, a Ternium comprou 27,7% da Usiminas. Pagou R$ 4,1 bilhões (à época) para Votorantim e Camargo Corrêa. Entrou no grupo de controle, mas sem tê-lo.

A CSN, que tem 12,9% das ações, pediu à Justiça uma indenização, porque entendia que a mudança no grupo de controle disparava o que é chamado no mercado de “tag along” -quando um grupo minoritário tem direito de receber uma oferta por suas ações devido à alienação do controle de uma companhia. É algo que está previsto no artigo 254A da lei nº 6.404, conhecida como Lei das S/A.

O argumento é que a troca de controle ocorreu de forma disfarçada, o que a Ternium nega ter acontecido. O caso está na 3ª turma do STJ. O placar está empatado em 2 a 2, e o último voto será dado pelo ministro Antonio Carlos Ferreira. Mas um parecer favorável à CSN mudaria o entendimento da CVM (Comissão de Valores Mobiliários) de que tag along só seria acionado se uma empresa assumisse de fato o comando.

A Companhia Siderúrgica Nacional reivindica receber uma indenização de R$ 5 bilhões e continuar com sua porcentagem na Usiminas.

Em diferentes encontros diplomáticos, os italianos têm ressaltado que uma eventual multa de “US$ 1 bilhão” (número usado pelos europeus que se aproxima dos R$ 5 bilhões) poderia afetar outros investimentos planejados pela Ternium e até levar a demissões na Usiminas.

A disputa entre CSN e Ternium mudou de rumo com a apresentação de embargos de declaração ao STJ. Até então, a siderúrgica havia perdido em todas as instâncias, inclusive no mérito da ação no próprio Superior Tribunal de Justiça.

Entre o julgamento do mérito e a análise dos embargos de declaração (expediente que serve para apontar uma incoerência ou dirimir dúvidas), o ministro Paulo de Tarso Sanseverino morreu e o ministro Marco Aurélio Bellizze se declarou impedido para julgar.

O ministro Paulo Dias de Moura Ribeiro, relator, decidiu dar razão à CSN, acompanhado pelo ministro Humberto Martins.
A ministra Nancy Andrighi e o ministro Villas Bôas Cueva votaram por mandar o caso de volta à primeira instância para produção de novas provas.

Existe também uma discussão em Minas Gerais, no TRF-6 (Tribunal Regional Federal da 6ª região), em que a Usiminas pede que o Cade (Conselho Administrativo de Defesa Econômica) obrigue a CSN a vender suas ações porque as duas empresas são siderúrgicas concorrentes.

O Cade havia decidido, em abril de 2014, que a CSN deveria se desfazer dos papéis no prazo de cinco anos. Como isso não aconteceu, em setembro de 2022, o órgão mudou o entendimento. Manteve a necessidade de venda, mas não estabeleceu um prazo para isso acontecer. A disputa pode inclusive respingar no leilão da Sabesp em São Paulo.

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