Israel afirmou, nesta quinta-feira (26), que continuará lutando contra o Hezbollah no Líbano “até a vitória” e rejeitou um pedido conjunto de um cessar-fogo de 21 dias feito por Estados Unidos, França e outros aliados.
Pelo quarto dia consecutivo, o Exército israelense efetuou uma série de bombardeios contra redutos do movimento islamista no Líbano, enquanto o grupo apoiado pelo Irã disparou mais uma vez projéteis contra complexos militares israelenses.
Ao menos 20 pessoas, quase todas de nacionalidade síria, morreram em um ataque israelense na cidade de Yunin, um reduto do Hezbollah no leste do Líbano, informaram as autoridades de saúde libanesas.
“É indescritível, foi uma das piores noites das nossas vidas. Como se houvesse apenas um segundo entre a vida e a morte”, disse à AFP Fadia Rafic Yaghi, moradora da região, de 70 anos.
“Há objetos voando sobre a sua cabeça e você não sabe se vão cair sobre você ou não”, acrescentou a mulher, que afirma que “ainda há pessoas sob os escombros”.
O Exército israelense indicou que os seus aviões atacaram 75 alvos do grupo pró-iraniano no sul e leste do Líbano durante a noite. Afirmou ainda que 45 projéteis foram disparados a partir do Líbano, alguns dos quais foram interceptados e outros caíram em áreas desabitadas.
Os bombardeios israelenses mataram mais de 600 pessoas desde segunda-feira, incluindo muitos civis, e forçaram 90 mil a fugir das suas casas no Líbano, segundo a ONU.
Israel e o Hezbollah trocam disparos há meses, mas os duelos de artilharia se intensificaram depois das detonações mortais dos dispositivos de transmissão de membros do movimento libanês, atribuídos a Israel, em 17 e 18 de setembro, e de um bombardeio israelense em 20 de setembro em um subúrbio do sul de Beirute, que decapitou a unidade de elite Radwan do grupo pró-iraniano.
“Dar uma oportunidade à diplomacia”
Diante da escalada que ameaça arrastar toda a região para a guerra, Estados Unidos, França e outros aliados, incluindo os países árabes, fizeram um apelo conjunto a um cessar-fogo de 21 dias, a fim de “dar uma oportunidade à diplomacia”, diz um comunicado divulgado pela Casa Branca.
Mas algumas horas depois, o primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu, rejeitou energicamente o apelo e ordenou às suas tropas que continuassem a combater o Hezbollah “com toda a força necessária”.
“Continuaremos combatendo a organização terrorista Hezbollah com força total até a vitória e até o retorno seguro dos habitantes do norte às suas casas”, acrescentou o seu ministro das Relações Exteriores, Israel Katz, na rede social X.
Em guerra com o movimento islamista palestino Hamas na Faixa de Gaza desde 7 de outubro de 2023, Israel anunciou em meados de setembro que o “centro de gravidade” da guerra se desloca para norte, na fronteira com o Líbano.
Israel afirma que o seu objetivo é garantir o retorno às suas casas de dezenas de milhares de habitantes do norte deslocados pelas hostilidades com o Hezbollah, que acontecem desde o início da guerra em Gaza, há quase um ano.
Milhares fogem para a Síria
O comandante do Estado-Maior do Exército Israelense, Herzi Halevi, pediu na quarta-feira a seus soldados que se preparassem para uma “possível” ofensiva terrestre no Líbano.
“Estamos atacando o dia todo. Tanto para preparar o terreno para uma possível entrada, quanto para continuar atacando o Hezbollah”, declarou Halevi.
O presidente dos EUA, Joe Biden, cujo país é o principal aliado de Israel, insistiu na ONU que “uma guerra generalizada não beneficia ninguém”. O Pentágono estimou, contudo, que uma operação terrestre israelense no Líbano não parece “iminente”.
O Exército israelense afirmou nesta quinta-feira que atingiu infraestruturas ligadas ao Hezbollah na fronteira com a Síria, país para onde, segundo fontes de segurança sírias, mais de 22.000 pessoas fugiram dos bombardeios israelenses no Líbano.
“Todos deveríamos estar alarmados com a escalada”, alertou o secretário-geral da ONU, António Guterres, na quarta-feira, em uma reunião de emergência do Conselho de Segurança.
O Hezbollah, aliado do Hamas, promete continuar combatendo Israel “até o fim da agressão em Gaza”. O Irã garantiu que apoiaria o Líbano “por todos os meios” no caso de uma escalada.
Este conflito eclodiu com o ataque do Hamas em 7 de outubro, que deixou 1.205 mortos em Israel, a maioria civis, segundo uma contagem da AFP baseada em números oficiais israelenses que inclui reféns que morreram no cativeiro em Gaza.
Das 251 pessoas raptadas, 97 permanecem em Gaza, 33 das quais foram declaradas mortas pelo Exército.
Em retaliação, Israel lançou uma ofensiva na Faixa de Gaza que já deixou 41.495 mortos, a maioria civis, segundo dados do Ministério da Saúde do governo do Hamas, considerados confiáveis pela ONU. (AFP)