BRASÍLIA — Com passaporte retido pela Polícia Federal (PF) e impedido de ir à posse de Donald Trump, Jair Bolsonaro (PL) chorou durante o embarque de Michelle Bolsonaro para os Estados Unidos. Ela e o filho dele, Eduardo Bolsonaro (PL-SP), vão representá-lo na cerimônia marcada para segunda-feira (20).
“Estou constrangido. Queria acompanhar minha esposa. Quem vai acompanhá-la vai ser meu filho Eduardo e a esposa dele. Queria estar lá [nos Estados Unidos]. Eu pré-acertei encontros com chefes de Estado e, lamentavelmente, não poderei comparecer”, afirmou durante ida ao Aeroporto Internacional de Brasília neste sábado (18).
Em uma longa declaração no saguão, Bolsonaro criticou o ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Alexandre de Moraes, que rejeitou o pedido de seu trio de advogados para ele recuperar o passaporte em caráter excepcional e ir à posse de Trump.
“Estou chateado, né? Eu enfrento uma enorme perseguição política por parte de uma pessoa. Ele é o dono do processo. Ele é o dono de tudo. Faz o que bem entende. O objetivo é eliminar a direita no Brasil”, declarou.
A Justiça confiscou o passaporte de Jair Bolsonaro em fevereiro do ano passado. Ele é investigado no âmbito de um inquérito que apura a atuação de uma quadrilha que teria atuado em prol de um golpe de Estado para mantê-lo na presidência da República.
Dez meses depois, em novembro, Bolsonaro foi indiciado pela Polícia Federal pelos crimes de tentativa de golpe de Estado e abolição do Estado Democrático de Direito.
A defesa de Bolsonaro tentou reaver o passaporte dele em dois pedidos ao Supremo Tribunal Federal; ambos negados pelo ministro Alexandre de Moraes. No recurso protocolado na última quinta-feira (16), o trio de advogados que o representa citou a ida do ex-presidente à Argentina para posse de Javier Milei como argumento para dizer que ele não fugiria do país.
“As cautelares impostas têm sido integralmente cumpridas e respeitadas. E, portanto, nada indica que a pontual devolução do passaporte, por período delimitado e justificado, possa colocar em risco essa realidade”, argumentaram os defensores.
O ministro manteve a justificativa de que a devolução do passaporte representaria risco de fuga. “O cenário que fundamentou a imposição de proibição de se ausentar do país, com entrega de passaportes, continua a indicar a possibilidade de tentativa de evasão”, avaliou.
O parecer de Moraes concorda com a orientação da Procuradoria-Geral da República (PGR), que se manifestou contra a liberação do documento e a autorização para a viagem. O procurador-geral, Paulo Gonet, entendeu que não há interesse público na ida de Bolsonaro à posse de Trump, e, portanto, não haveria justificativa para derrubar a restrição.