Casos de falsificação de Ozempic, medicamento para tratamento da diabetes tipo 2, mas que está sendo largamente usado para a perda de peso, foram identificados no Rio de Janeiro e em Brasília e já provocam vítimas.
Na última quinta (17/10), uma economista de 46 anos foi internada no Hospital Copa D’Or, no Rio de Janeiro, com quadro de hipoglicemia muito grave causado pelo uso de Ozempic falsificado.
Segundo ela, o remédio havia sido comprado em uma farmácia na zona sul da cidade. A Polícia Civil do Rio informou que foi instaurado inquérito e que o produto suspeito foi encaminhado para perícia.
A fabricante do fármaco, a Novo Nordisk, confirma os casos de falsificação no Rio e em Brasília e diz há indícios de que canetas de insulina Fiasp e FlexTouch foram readesivadas com rótulos de Ozempic, possivelmente retirados indevidamente de canetas originais do medicamento.
“A companhia reconhece a gravidade da situação e esclarece que está em contato e colaborando com as autoridades competentes, para contribuir com a investigação dos fatos”, afirmou em nota.
A paciente relatou à polícia que começou a se sentir desorientada, tonta, com frio e lábios roxos logo após a aplicação de uma das seringas da última caixa do medicamento. Ela usa Ozempic há um ano, com acompanhamento médico, e nunca havia apresentado tais sintomas.
De acordo com a Rede D’Dor, a paciente chegou à emergência do Copa D’Or, apresentando um quadro clínico grave e de difícil identificação.
Ao saber que ela faz tratamento com Ozempic, a equipe médica suspeitou que os sintomas poderiam ser efeitos de um remédio falsificado, uma vez que a Novo Nordisk havia divulgado alerta recente sobre possível falsificação.
O hospital ainda informa que a paciente se recuperou bem e recebeu alta na sexta (18/10). Após o caso, a Rede D’Or divulgou um comunicado para todos os hospitais do grupo alertando sobre a possibilidade de atendimentos a casos suspeitos de uso de Ozempic falsificado, destacando os sintomas registrados até o momento.
O alerta também instrui as unidades a adotar ações preventivas, como orientar os pacientes sobre os perigos da compra de medicamento em locais não regulamentados e a importância de adquiri-los apenas em farmácias confiáveis e credenciadas.
Em janeiro, a Organização Mundial da Saúde (OMS) emitiu um alerta sobre o aumento da falsificação dos remédios Ozempic e Wegovy, ambos fabricados pela Novo Nordisk. No Brasil, a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) já reconheceu três lotes falsificados.
A organização mundial atribuiu a alta de remédios falsos à escassez global dos produtos injetáveis indicados para o tratamento da diabetes tipo 2 e, às vezes, aprovados para a perda de peso. “A escassez afeta negativamente o acesso a produtos médicos e cria um vácuo que muitas vezes é preenchido por versões falsificadas”, diz.
Em São Paulo, a ação de quadrilhas especializadas em medicamentos de alto custo miram o Ozempic em decorrência da alta procura. Os roubos têm feito com que drogarias reduzam o estoque em suas unidades. Há casos em que farmácias foram assaltadas mais de cinco vezes pelo mesmo criminoso. A fabricante do medicamento também reforçou a segurança no transporte do produto.
Atenção aos detalhes
Em nota, a Novo Nordisk orienta que qualquer pessoa que tenha adquirido Ozempic atente-se aos detalhes da caneta antes da aplicação. A caneta de Ozempic é de cor azul clara, com o botão de aplicação cinza. Já a caneta de Fiasp é azul escura, com botão laranja.
Para se proteger de casos de falsificação, na hora da compra, a farmacêutica recomenda que as pessoas desconfiem sempre de sites e canais não licenciados pela Anvisa para comercialização de medicamentos e que usam os nomes das marcas e/ou adotam aplicativos de vendas e redes sociais para ofertar os produtos.
Também pede atenção se a embalagem do medicamento estiver visivelmente alterada, em idioma estrangeiro, com aparência farmacêutica (apresentação) diferente da registrada e com informações incorretas sobre o produto Ozempic é vendido apenas em canetas pré-preenchidas injetáveis.
Preços muito abaixo dos aprovados pelo governo brasileiro também devem despertar desconfiança, diz a farmacêutica. Em caso de dúvidas sobre os pontos de vendas ou mesmo sobre o medicamento adquirido, os pacientes podem acessar o Serviço de Atendimento ao Consumidor (SAC) da Novo Nordisk Brasil.
(Cláudia Collucci/Folhapress)