Conforme aguardado pelo mercado financeiro, o Comitê de Política Monetária (Copom) decidiu, nesta quarta-feira (18), elevar a taxa básica de juros em 0,25 ponto percentual. Desta forma, a Selic agora passa a ser de 10,75%. Esta é a primeira alta em mais de dois anos e a decisão foi unânime entre os membros do comitê.
Nem mesmo a redução da taxa de juros nos Estados Unidos pelo Federal Reserve ou a deflação registrada em agosto foram capazes de mudar a decisão aguardada pelo mercado. A alta do dólar e a aguardada alta nos preços dos alimentos e da energia, por causa da seca histórica, fazem com que haja uma incerteza sobre a inflação – e, consequentemente, uma necessidade de frear a economia, que está crescendo acima do esperado.
De acordo com os membros do Copom, a decisão é “compatível com a estratégia de convergência da inflação para o redor da meta ao longo do horizonte relevante”. “O conjunto dos indicadores de atividade econômica e do mercado de trabalho tem apresentado dinamismo maior do que o esperado, o que levou a uma reavaliação do hiato para o campo positivo. A inflação medida pelo IPCA cheio assim como medidas de inflação subjacente se situaram acima da meta para a inflação nas divulgações mais recentes”, afirmou o Copom por meio de nota.
A última alta dos juros ocorreu em agosto de 2022, quando a taxa subiu de 13,25% para 13,75% ao ano. Após passar um ano nesse nível, a taxa teve seis cortes de 0,5 ponto e um corte de 0,25 ponto, entre agosto do ano passado e maio deste ano. Nas reuniões, de junho e julho, o Copom decidiu manter a taxa em 10,5% ao ano, no menor nível desde fevereiro de 2022. De acordo com o Boletim Focus, o mercado financeiro tem a expectativa de que os juros fiquem em 11,25% no final deste ano.
Novos aumentos dependem da “evolução da inflação”, segundo o Copom. “O ritmo de ajustes futuros na taxa de juros e a magnitude total do ciclo ora iniciado serão ditados pelo firme compromisso de convergência da inflação à meta e dependerão da evolução da dinâmica da inflação, em especial dos componentes mais sensíveis à atividade econômica e à política monetária, das projeções de inflação, das expectativas de inflação, do hiato do produto e do balanço de riscos”.
Esse texto é uma indicação para o mercado que haverá, sim, um novo ciclo de elevação de juros. “O Copom coloca no último parágrafo que se iniciou um ciclo de alta na taxa de juros. Ele não menciona, mas ele fala explicitamente. O ritmo dos ajustes futuros na taxa de juros e a magnitude total do ciclo ora iniciado, ou seja, é um ciclo de alta, e fica claro que virão mais aumentos na sequência. Porém, ele não quer antecipar e não diz qual será o ritmo desses ajustes e nem qual será a magnitude total desse ciclo de alta”, explica Luiz Rogé, economista, gestor de investimentos e sócio da Matriz Asset Management.
O indicado pelo presidente Lula para ser o próximo presidente do Banco Central, Gabriel Galípolo (atualmente, diretor de Política Monetária da autarquia), já havia adiantado a forte possibilidade de se aumentar a taxa de juros nesta reunião do Copom, durante um almoço com executivos em Belo Horizonte, em agosto. A sabatina dele no Senado Federal está prevista para o dia 8 de outubro.
Decisão desagrada setores
A decisão do Copom desagrada alguns setores produtivos. A Federação das Indústrias do Estado de Minas Gerais (Fiemg) emitiu nota se mostrando indignada com o aumento na taxa de juros. “A capacidade produtiva é gravemente afetada, e os impactos são sentidos de forma sistêmica. O cenário de juros crescentes impõe desafios significativos à indústria, que tem sua capacidade de investimento limitada e sua competitividade reduzida. Esses fatores, combinados ,afetam negativamente o crescimento econômico, a geração de empregos e a população. A Fiemg expressa sua profunda consternação e indignação com a composição do Copom e destaca a importância de uma abordagem mais proativa nas próximas reuniões”, diz a entidade em nota.
Para o presidente da Câmara de Dirigentes Lojistas de Belo Horizonte (CDL/BH), Marcelo de Souza e Silva, o reajuste pode impactar as atividades econômicas, especialmente, no próximo “super trimestre”, marcado por datas comemorativas como Dia das Crianças, Black Friday e Natal. “O aumento da taxa Selic impacta o setor de comércio e serviços, pois restringe o crédito e reduz o poder de compra dos consumidores. Isso resulta em uma queda de demanda por bens e serviços e aumento dos custos operacionais para as empresas. Com juros altos, os consumidores tendem a reduzir gastos, o que pode levar a uma queda nas vendas no varejo e em serviços relacionados”, avalia.
Já os analistas do mercado financeiro receberam muito bem a notícia sobre a alta de juros. “Apesar da decisão não apresentar surpresas, a unanimidade será bem recebida. Mais importante ainda foi o tom dado no comunicado ao reconhecer no balanço de riscos todas as preocupações presentes entre analistas e agentes econômicos. Mesmo sem o chamado forward guidance, a meu ver, o Copom não quis deixar dúvidas de que farão o que for necessário para trazer a inflação para a meta. O movimento de hoje deve contribuir para o processo de recuperação da credibilidade do colegiado”, avalia Danilo Igliori economista-chefe da Nomad.
O que é a taxa Selic?
A taxa básica de juros é usada nas negociações de títulos públicos emitidos pelo Tesouro Nacional no Sistema Especial de Liquidação e Custódia (Selic) e serve de referência para as demais taxas da economia. Ela é o principal instrumento do Banco Central para manter a inflação sob controle. O BC atua diariamente por meio de operações de mercado aberto – comprando e vendendo títulos públicos federais – para manter a taxa de juros próxima do valor definido na reunião.
Quando o Copom aumenta a taxa básica de juros, a finalidade é conter a demanda aquecida, e isso causa reflexos nos preços porque os juros mais altos encarecem o crédito e estimulam a poupança. Desse modo, taxas mais altas também podem dificultar a expansão da economia. Mas, além da Selic, os bancos consideram outros fatores na hora de definir os juros cobrados dos consumidores, como risco de inadimplência, lucro e despesas administrativas.
Ao reduzir a Selic, a tendência é de que o crédito fique mais barato, com incentivo à produção e ao consumo, reduzindo o controle da inflação e estimulando a atividade econômica.
O Copom reúne-se a cada 45 dias. No primeiro dia do encontro, são feitas apresentações técnicas sobre a evolução e as perspectivas das economias brasileira e mundial e o comportamento do mercado financeiro. No segundo dia, os membros do Copom, formado pela diretoria do BC, analisam as possibilidades e definem a Selic.
(Com Agência Brasil)