BRASÍLIA – O ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) afirmou que o ex-governador do Rio de Janeiro Wilson Witzel pediu a ele que indicasse um juiz de sua confiança a ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) para enterrar o inquérito que incrimina o senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ) de suposta prática de “rachadinha”.
A declaração foi dada durante uma reunião em que o então presidente, segundo a Polícia Federal (PF), discute o uso da estrutura da Agência Brasileira de Inteligência (Abin) para a produção de provas em favor do filho. Investigação iniciada em 2018 apura se Flávio Bolsonaro, quando deputado estadual, desviou para si parte dos salários de seus assessores de gabinete na Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro.
O conteúdo da gravação de 1 hora e 8 minutos faz parte de material apreendido e periciado pela PF no computador de Alexandre Ramagem e que teve o sigilo derrubado nesta segunda-feira (15) pelo ministro do STF Alexandre de Moraes. O hoje deputado federal é, até então, o candidato de Bolsonaro para disputar a Prefeitura do Rio nas eleições de outubro.
Participaram da reunião com Bolsonaro, além de Ramagem, o então ministro-chefe do Gabinete de Segurança Institucional (GSI), general Augusto Heleno, e as advogadas de defesa de Flávio Bolsonaro, Luciana Pires e Juliana Bierrenbach.
“O ano passado (sic), no meio do ano, encontrei com Witzel, e ele falou: ‘Eu resolvo esse problema do Flávio. Me dá uma vaga no Supremo”, contou o ex-presidente. “Ele tem a Polícia Civil [do Rio de Janeiro] na mão”, afirma a advogada Luciana Pires, quando Augusto Heleno completa e é repetido por Bolsonaro. “É a sede de poder”, diz um seguido do outro.
Segundos antes, o grupo discutiu as pretensões políticas de Wilson Witzel em substituir Bolsonaro no Palácio do Planalto em 2023. De acordo com eles, o então governador do Rio, depois preso e impichado por crime de corrupção, já se comportava como futuro presidente da República.
“Eu fiquei sabendo que o Witzel já montou o ministério dele para 2023. E tem idiota que acredita nisso”, afirmou Bolsonaro. Quando Luciana o interrompe e diz: “Tem uma psiquiatra famosa… (inaudível) Ele tem uma falsa percepção, ele se vê presidente”.
O que diz Witzel sobre a fala de Bolsonaro
Em seu perfil no X, Wilson Witzel negou a declaração de Bolsonaro de que propôs a ele uma solução para encerrar o caso das rachadinhas contra Flávio Bolsonaro. O ex-governador do Rio ainda alfinetou o ex-presidente dizendo que ele sofreria de “confusão mental” em razão das demandas do cargo ao atribuir a ele práticas supostamente adotadas pelo governo federal de interferência nas polícias e nos órgãos de inteligência.
“O Presidente Jair Bolsonaro deve ter se confundido e não foi a primeira vez que mencionou conversas que nunca tivemos, seja por confusão mental, diante de suas inúmeras preocupações, seja por acreditar que eu faria, a nível local, o que hoje se está verificando que foi feito com a Abin e Polícia Federal. No meu governo a Polícia Civil e militar sempre tiveram total independência e os poderes foram respeitados. A história e tudo o que aconteceu comigo comprovam isso”, escreveu na postagem.