Mais de 24 milhões de sites estão abrigados dentro do Cloudflare; no Brasil, a estimativa é de que, entre 50% e 70% dos sites utilizem o serviço, segundo integrante da Abrint
BRASÍLIA – A Associação Brasileira dos Provedores de Internet (Abrint) elogiou a cautela dos provedores brasileiros em aguardar a orientação formal da Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel) em relação ao bloqueio da rede social X. Na quarta-feira (18), usuários brasileiros relataram ter conseguido acesso à plataforma, depois que a empresa do bilionário Elon Musk passou a utilizar serviços intermediários como o Cloudflare.
“Isso foi muito importante, porque se ontem alguém tivesse bloqueado o Cloudflare poderia ter bloqueado o funcionamento do Pix no Brasil, por exemplo. Então são coisas muito graves que poderiam acontecer”, destacou Basílio Rodriguez Pérez, membro da Abrint.
Segundo ele, “também foi importante o fato de que, desta vez, a Anatel passou informações bastante precisas do que fazer”. “Infelizmente, em vezes anteriores, as notificações da Anatel vinham no sentido de façam todos os esforços técnico para resolver o caso, mas não diziam como fazer”, disse.
“E, desta vez, a Anatel fez contato com o Cloudflare, ou seja, houve realmente um trabalho técnico importante. E aí quando a Anatel passou os dados, passou com uma certa convicção de que aquilo iria funcionar. E efetivamente está funcionando”, acrescentou.
De acordo com o representante da Abrint, os provedores de internet no Brasil já conseguiram bloquear novamente o acesso à rede social X. A Anatel fechou um acordo com a empresa Cloudflare, que forneceu os dois IPs (endereços virtuais) utilizados pela rede do bilionário Elon Musk, para que os provedores pudessem realizar o bloqueio.
“A informação que eu tenho neste momento é que está já bloqueado, então, teoricamente, já não dá para acessar, ou se der para acessar ainda em algum local, pode ser porque o X estava usando outras plataformas, que não eram o Cloudflare”, afirma Basílio Pérez.
A rede social X ainda utiliza duas empresas menores, Fastly e EdgeUno, para “driblar” o bloqueio no Brasil.
Entre 50% a 70% dos sites no Brasil usam Cloudflare
O Cloudflare é um proxy reverso em nuvem e é muito utilizado por sites, já que aumenta a segurança contra ataques hackers e também a velocidade de acesso. Como os IPs estão constantemente mudando e apenas o serviço sabe onde o site está na nuvem, isso dificulta acessos indevidos.
Basílio Pérez afirma que mais de 24 milhões de sites estão abrigados dentro do Cloudflare. No Brasil, a estimativa é de que entre 50% e 70% dos sites utilizem o serviço, como bancos, inclusive o Banco Central, grandes empresas, imprensa e até sites governamentais.
“Agora o que temos que fazer é ficar avaliando as redes nos próximos dias, para ver se não houve nenhum efeito colateral de algum serviço que deixou de funcionar”, afirmou.
X volta a funcionar após ‘drible’ de Elon Musk
Usuários do Brasil conseguiram acessar o antigo Twitter na quarta-feira (18), mesmo sem uso de VPN — uma rede virtual privada que permite ocultar a geolocalização dos aparelhos e acessar conteúdos bloqueados em seu país. Isso porque a plataforma passou a utilizar serviços intermediários que fazem com que os IPs mudem constantemente.
Em razão disso, o ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal, determinou multa diária de R$ 5 milhões à X pelo descumprimento de ordem judicial que suspendeu a operação da plataforma no Brasil. A decisão impõe responsabilidade solidária à Starlink, que responderá subsidiariamente caso a X não realize o pagamento. Como não tem representante legal no país, a determinação foi publicada em um edital de intimação.
“A dolosa, ilícita e persistente recalcitrância da plataforma X no cumprimento de ordens judiciais foi confessada diretamente por seu maior acionista, Elon Musk, em publicação no próprio X dirigida a todo território nacional’, diz o ministro na decisão.
“Não há, portanto, dúvidas de que a plataforma X – sob o comando direto de Elon Musk –, novamente, pretende desrespeitar o Poder Judiciário brasileiro, pois a Anatel identificou a estratégia utilizada para desobedecer a ordem judicial proferida nos autos, inclusive com a sugestão das providências a serem adotadas para a manutenção da suspensão”, continua.
No documento, Moraes ainda determina à Anatel que adote providência para a suspensão da utilização dos novos acessos pelos servidores Cloudflare, Fastly e EdgeUno.
Rede social X segue suspensa no Brasil
A rede social X foi bloqueada no Brasil por decisão do ministro Alexandre de Moraes, do STF, após a empresa do bilionário Elon Musk não cumprir a determinação para indicar um novo representante legal no país.
A rede social fica suspensa até que as ordens judiciais sejam cumpridas e as multas diárias pagas. Na decisão, o ministro ainda fixou uma multa para os usuários que fizessem uso de “subterfúgios tecnológicos” para acessar a plataforma.
Além disso, Alexandre de Moraes também bloqueou as contas da empresa Starlink Holding, de Elon Musk, para garantir o pagamento das multas aplicadas pela Justiça brasileira contra o X.
A decisão foi mantida, por unanimidade, pelos cinco ministros da Primeira Turma do STF.