(foto: Leandro Couri/EM/D.A Press)
Mateo Gamarra mal chegou ao Cruzeiro e já cativou. Durante a apresentação oficial, o zagueiro celeste, reforço para a temporada, expôs uma parte desafiadora da vida com orgulho do passado estampado no rosto e voz mansa. Em poucos minutos, mostrou-se deslumbrado com a oportunidade de vestir a camisa estrelada depois de a vida ‘dar uma volta de 360 graus’.
‘Deixei de lado o pouco que ganhei’
Natural de Concepción, no Paraguai, Gamarra iniciou a carreira profissional no Independiente, de Assunção, aos 18 anos. Em 2020, quando a Organização Mundial da Saúde (OMS) elevou a classificação do novo coronavírus para pandemia, a segunda divisão do país, na qual atuava o defensor, foi paralisada. Sem opções, voltou à cidade natal para tentar renda extra.
“É uma história muito fofa. Todo mundo tem aqui uma história especial, mas minha história é um pouco mais forte porque eu já estava jogando profissionalmente e aí chegou a pandemia. A gente voltou para o interior e não recebia muito bem o salário. Então, esse dinheiro que eu tinha, o que eu pouco ganhei, eu tratei de deixar ao lado e voltei a trabalhar”, iniciou.
Gamarra realizou alguns ‘bicos’ como pintor de barcos, limpador de pátio e outras. Sem vergonha alguma do que passou, fez questão de dizer como as raízes constroem o futuro.
“Eu sempre falo, eu não devo para ninguém, não tenho vergonha de voltar a trabalhar, voltar a tocar no chão. Quando a gente esquece de onde saiu, o caminho vai ser um pouco difícil. Minha mãe e minha família me ensinaram muito bem que a gente não tem que esquecer o passado. Acho que a gente valoriza mais o que está vivendo agora”, seguiu.
Volta aos gramados
Na segunda metade de 2020, Gamarra voltou a jogar profissionalmente, dessa vez pelo 12 de Octubre, que competia na primeira divisão: “Surgiu uma possibilidade de voltar emprestado. Joguei seis meses e deus tocou a mim”. Em 2021, o atleta chamou a atenção do Olimpia, que tratou de contratá-lo. Titular, ganhou espaço também na Seleção do Paraguai. Não à toa despertou interesse do Athletico-PR.
A passagem pelo clube brasileiro não foi como o zagueiro esperava. Ele iniciou a temporada de 2024 como titular, mas perdeu espaço ao longo do tempo. No fim, participou de 36 dos 73 jogos do Furacão.
Chegada de Gamarra ao Cruzeiro
Gamarra entrou no radar do Cruzeiro quando João Marcelo se machucou – sofreu uma lesão multiligamentar associada a lesões meniscais no joelho direito e precisou passar por cirurgia no início de fevereiro. Sem muito alarde, a Raposa foi ao mercado e buscou o paraguaio de 24 anos, que tem contrato até o fim da atual temporada. Na negociação, cedeu o jovem atacante Tevis, de 19 anos, ao Athletico-PR.
Em página virada, o recém-chegado fez questão de compartilhar como está satisfeito na nova casa: “Para mim, é muito importante estar no Cruzeiro. É um time muito grande. Comparando com cinco anos atrás, nunca ia imaginar isso. Mas os dias em que eu ia trabalhar, sempre tinha na cabeça que voltaria mais forte ainda… Minha vida deu uma volta de 360 graus e aqui estou muito feliz”.
Gamarra já pode estrear pelo Cruzeiro?
Regularizado no Boletim Informativo Diário (BID) da Confederação Brasileira de Futebol (CBF) e já inserido na rotina de treinamentos do clube, Gamarra pode ser opção para o técnico Leonardo Jardim no próximo confronto. Como de praxe, o Cruzeiro não divulga a lista de relacionados, mas a tendência é que o paraguaio integre pelo menos o banco de reservas.
A Raposa volta a campo neste sábado (22/2), às 16h30, contra o América, no Independência, em Belo Horizonte, pelo jogo de volta da semifinal do Campeonato Mineiro.
Em Belo Horizonte, Gamarra disputará vaga com pelo menos quatro companheiros de posição: Fabrício Bruno, Jonathan Jesus, Villalba e Bruno Alves.