(foto: Alexandre Guzanshe/EM/DA.Press)
A ligação com o Atlético fica clara desde os primeiros passos na Patrus Transportes. Filho de Marum Patrus, ex-presidente do Conselho Deliberativo, Marcelo faz questão de exaltar a história do pai com textos e fotos que contam um pouco da trajetória de quem o inspirou a viver o Galo. Com ele, não foi diferente. A convite dos amigos Rubens Menin e Ricardo Guimarães, o conselheiro se tornou investidor e, hoje, é um dos responsáveis por ajudar a conduzir os rumos da Sociedade Anônima do Futebol (SAF) alvinegra. E aposta em alto e bom som: em 2030, o clube “será referência mundial”.
Aos 61 anos, o empresário concilia a paixão pelo Atlético com a tarefa de administrar a transportadora que herdou do pai – ao lado dos irmãos Marco e Mariana (que morreu em 2019). São cerca de 3,3 mil funcionários nas 95 unidades espalhadas nas regiões Sul, Sudeste e Nordeste com a missão de realizar o transporte rodoviário de cargas diversas.
Logo na entrada da empresa, um memorial reverencia a história da família – intrinsecamente associada ao Galo. É ali onde Marcelo recebeu a equipe do No Ataque para uma conversa de mais de duas horas, em Contagem, na Região Metropolitana de Belo Horizonte.
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Nas paredes do local, crônicas assinadas por Roberto Drummond no Estado de Minas relembram a trajetória de 16 anos de Marum no clube. Em uma das fotos, o ex-líder do Conselho empossa Elias Kalil como presidente, em 1980. As memórias do pai o emocionam.
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“Os filhos têm que torcer pelo que o pai torce, porque uma das coisas bonitas do futebol é o pai e o filho irem juntos para o jogo. Isso nasceu em mim porque o meu pai me levava em todos os jogos do Atlético. Fui a vida inteira até ele falecer, íamos em todos os jogos, tínhamos cadeira cativa no Mineirão. Essa paixão veio daí”, conta.
“Tenho grandes paixões na vida, minha família, minha mulher, meus dois filhos e agora meus dois netos. E sou um atleticano apaixonado, que ama o Clube Atlético Mineiro. Vocês estão falando de uma pessoa que quer o bem e quer o Atlético prosperando. Hoje, meu lazer é assistir jogo do Atlético. Amo assistir, assisto todos, vou a todos dentro do possível, porque às vezes estou viajando, mas é um dos grandes prazeres que eu tenho.”
De conselheiro a investidor do Atlético
A admiração pela participação do pai no Atlético fez com que Marcelo se tornasse conselheiro do clube em 1990. O maior envolvimento com o clube do coração teve início em novembro de 2023, quando a SAF do alvinegro iniciou as operações.
Marcelo Patrus faz parte do FIGA (Fundo de Investimento do Galo), em que também se encontra Renato Salvador, um dos 4Rs (Rubens Menin, Rafael Menin, Ricardo Guimarães e o próprio Renato, empresários e sócios do clube). O valor mínimo a ser pago para entrar nesse grupo é de R$ 1 milhão.
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O fundo tem 6,7% da Galo Holding, que por sua vez detém 75% das ações da SAF. O FIGA deveria ter pago R$ 100 milhões pela compra das ações, mas isso ainda não ocorreu porque o clube segue em busca dos R$ 90 milhões restantes.
“Existe um time forte liderado pelo Bruno Muzzi (CEO do clube), que está trazendo novas pessoas para o FIGA. E existe o compromisso do Rubens, que se não atingir o valor do FIGA, ele iria comprar as cotas. É uma questão de tempo. É gradativo. Tem o valor mínimo, acima de R$ 1 milhão. Está indo. Entendeu? Vai devagarzinho, vai”, revelou Patrus.
A participação de Patrus na SAF
Patrus participa da gestão do Atlético por meio do Conselho de Administração da SAF, órgão responsável por definir as diretrizes estratégicas do clube. Além dele, fazem parte do grupo Rubens Menin, Rafael Menin, Ricardo Guimarães, Renato Salvador, Daniel Vorcaro, Gustavo Drummond (integrantes da Galo Holding), Sérgio Coelho (associação) e Márcio André (associação). As reuniões são mensais e contam com debates e apresentações sobre a parte não operacional do clube, como investimentos, orçamento, entre outros.
“Lógico que terminam as reuniões, vamos falar de futebol porque gostamos disso, os membros que participam do Conselho. O Conselho funciona, todo mês tem uma reunião muito transparente”, contra Patrus.
“Nós temos um grupo de WhatsApp dos conselheiros do Atlético. Os membros que fazem parte do Conselho. As notícias hoje, gente, andam muito rápido via WhatsApp. Tem que ficar entre nós. No grupo tem o pessoal da Ernst & Young (consultoria), tem o pessoal da Azevedo Sette (escritório de advocacia), que são as pessoas do jurídico. Está lá o Bruno Muzzi, que é o CEO do Atlético. Está o diretor financeiro da SAF, que é o Thiago Maia. E estão os conselheiros: eu, Rubens, Ricardo, essa turma toda aí”, revelou.
Os bastidores do convite
E foi justamente por meio de Rubens que surgiu o primeiro convite para Marcelo ser acionista na SAF do Galo. A conversa ocorreu assim que o Atlético decidiu vender 75% das ações. “Meu sobrenome não é Menin, nem Guimarães, mas um dinheiro a gente tem, né? Ele disse para eu investir o que eu pudesse. Ele me convidou”, brincou o empresário.
“Junto disso, o Ricardo me ligou também: ‘Marcelo, nós estamos lá, vamos prestigiar a SAF. Ela é um sucesso de um ou dois, são de vários.’ Como eu disse, o Atlético é de vários nomes que ajudaram a chegar até aqui hoje”, completou.
“Marcelo é um grande amigo que está sempre disponível para ajudar. Excelente pai de família, filho e marido. Muito trabalhador, mas sempre encontra tempo para dedicar ao Atlético, que é uma grande paixão dele, herdada de seu pai, Marum, que ocupou todos os cargos importantes dentro do clube e está presente na história do Atlético”, elogiou Ricardo Guimarães.
Em meio a convites de pessoas tão próximas, Patrus pesou não só a amizade, mas também a confiança no projeto.
“(Aceitei) Primeiro pela seriedade, segundo a honra de ser sócio dos sócios lá. Eu apostei no projeto primeiro porque são pessoas honestas, sérias, um projeto sem levar nenhuma vantagem. São homens de extremo sucesso que não precisam de mais nada, pelo contrário”, explicou.
“O Atlético tem um futuro enorme, tanto é que eu virei sócio. Não é por amizade e paixão, é profissional. Claro, é um equilíbrio entre a razão e a emoção. Hoje, as SAFs ainda estão decolando, mas a SAF do Atlético já está, e ela vai longe”, projetou.
E a convicção de Patrus na SAF do Atlético vai além. Ele acredita que o projeto pode colocar o clube como “referência mundial” e afirma: quem investir no clube terá lucro.
“E falo para quem quiser ouvir: venham investir na SAF. Não posso garantir nada, não tenho bola de cristal nem nada, mas (quem investir) vai ganhar dinheiro. Tenho muita certeza disso. Em 2030, vocês escrevem, a SAF do Atlético será referência mundial. Pode escrever o que estou falando, porque quem está pensando está sonhando com isso. E só tem craque lá atrás, todos esses nomes que eu falei, Rafael, Renato, Rubens, são craques, pessoas sensacionais e que fazem as coisas com muito pé no chão.”
O envolvimento com os principais gestores do Atlético não surgiu com a SAF. Marcelo é amigo de longa data dos 4Rs. A relação mais próxima é com Ricardo, a quem conhece desde 1985. Até hoje, eles jogam tênis juntos e dividem uma outra paixão: os bons vinhos.
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“Eu sou amigo do Ricardo Guimarães desde 1985. Ele já era amigo do meu pai, viajava como torcedor a todos os jogos do Atlético, e meu pai conheceu ele lá. Você chegava no hotel do Atlético e o Ricardo estava lá. O Rubens eu tenho uma relação com ele, menos que a do Ricardo, mas de muitos anos”, lembra Marcelo Patrus.
Além deles, outro amigo de Marcelo é Sérgio Coelho, presidente do Atlético. O mandatário alvinegro conheceu o empresário por meio de Marum Patrus, há mais de 30 anos.
“Em todos os momentos em que o clube precisou ele compareceu. No tempo em que eu estava à frente do futebol ou de qualquer área do Galo, todas as vezes que eu o procurei ele abriu as portas, compareceu ajudando, e até hoje ajuda, porque além de ser sócio da SAF, é um membro do Conselho de Administração. É uma pessoa de toda a nossa confiança, uma pessoa muito boa”, disse Coelho, ao No Ataque.
Os elogios são complementados por Rubens Menin, de quem é sócio em uma outra empresa, a Log (desenvolvedora e gestora de galpões): “Marcelo Patrus vem de uma família de atleticanos, o pai dele foi muito importante na história do Galo. É um conselheiro antigo, atleticano de quatro costados! Sempre nos apoiou em todos os momentos, uma pessoa muito bacana que sempre quis o bem do CAM.”
Críticas a sócios do Atlético
Apesar do otimismo de Patrus com a SAF, o grupo de acionistas têm sofrido com críticas por parte de torcedores nos últimos meses, sejam relacionadas ao desempenho do time ou até mesmo à postura dos sócios, que têm concedido poucas entrevistas.
O empresário, no entanto, vê a situação com outros olhos. Patrus crê que aparecer nos momentos esportivos ruins é papel dos executivos contratados e não dos sócios.
“Qualquer crítica construtiva, que não seja pejorativa, é extremamente bem-vinda. A gente é sabedor que muitos torcedores são 100% paixão, pouquíssima razão. As pessoas que dirigem o Atlético tem outros afazeres. Os acionistas. Eles não vivem de Atlético, eles têm empresas. Colocam no Atlético executivos, como toda empresa, para tocar o negócio. Essa é uma das grandes mudanças. É uma mudança nova, de três anos para cá, que as pessoas vão entender”, disse.
“Presidente de clube não dá entrevista em vestiário. Quem dá entrevista em vestiário é o diretor de futebol! O nosso colega no Cruzeiro, eu vi. O Atlético ganhou do Cruzeiro mais uma vez dentro do Mineirão. Acabou o jogo, jogador do Cruzeiro não ia falar, técnico não ia falar, apareceu lá o diretor de futebol, pôs a cara lá e ele que deu entrevista. Não foi o dono da SAF do Cruzeiro que foi lá dar entrevista no vestiário não. Isso acabou. São os diretores de futebol”, defendeu.
Patrus pensa em investir mais no Atlético
Distante do dia a dia do clube, Marcelo não descarta aumentar sua participação na SAF do Atlético e, eventualmente, poder visitar a Cidade do Galo de forma mais frequente. Antes disso ocorrer, ele pretende “passar o bastão” na Patrus Transportes.
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“Vamos devagar, é um grande desafio passar o bastão. Estou vendo que já não sou tão bom quanto eu era, estou ficando velho, apesar dos 61 anos. Mas tem gente sendo preparada para continuar com o legado”, projetou o empresário.
“Eu quero um dia ter tempo para mexer com o Atlético – mas nunca ser presidente, porque eu não tenho condições. Mas eu quero ajudar mais. Quero estar mais presente no CT”, continuou Patrus, que vislumbra os próximos passos.
“O meu grande sonho é o Atlético ser campeão do mundo. Para chegar em um Mundial, tem que ganhar a Libertadores. E não existe Atlético sem a torcida. Ela que levanta esse time, mexe com a emoção do jogador, que faz o Hulk um jogador tão excepcional. O Hulk não machuca, olha que profissional exemplar. Nós queremos o Atlético com vários Hulks, não só no futebol, mas também na gestão”.