Thiago Bonna – Desde que me lembro, sempre que um evento esportivo era transmitido pela televisão, ouvia de alguém que estava no bar ou mesmo em casa a seguinte frase, independentemente da disputa transmitida: “Esse daí, até eu fazia!”. A frase ecoava em chutes no futebol, em arremessos de basquete, em rebatidas de tênis e em diversas modalidades menos conhecidas do público médio, como tiro com arco, esgrima ou badminton.
Apesar de estar há mais de seis anos sem fazer atividade física, apenas com algumas tímidas caminhadas com breves corridas nos arredores do bairro ou com matrículas fracassadas na academia, o autor deste texto resolveu desafiar a lógica tão falada pelos telespectadores a cada erro dos atletas profissionais.
Para isso, escolhi três modalidades: esgrima, tiro com arco e tênis. O relatos sobre os desafios nos dois próximos esportes serão publicados na sexta-feira (26/7) e na terça-feira (30).
A ideia surgiu de um pensamento simples: não é possível que esportes cujo objetivo central seja enfiar a ponta de uma espada na outra pessoa, atirar um pedaço de flecha pelo ar em um alvo ou mesmo acertar uma bola com um objeto sejam tão difíceis.
Assim, busquei alguns atletas, treinadores e clubes. Queria me desafiar contra nomes proeminentes em alguns esportes olímpicos. Calma! Não fui sem conhecer nada da atividade dos meus futuros adversários. Estabeleci um prazo de 10 dias para me familiarizar com a prática para derrotar (ou não) os meus oponentes.
O objetivo estabelecido era aprender conceitos básicos, me desenvolver e melhorar meu condicionamento físico – que está 45 quilos acima do aconselhado pela última nutricionista com a qual me consultei. Se não ganhasse, pelo menos venderia caro para os adversários.
Mão na espada
A ex-atleta da Seleção Brasileira de esgrima e psicóloga Bianca Dantas, que pratica a modalidade há quase 20 anos, aceitou a proposta e se prontificou a me treinar na Esgrima Rapier (Rua Passa Tempo, 562 – Bairro Carmo), escola comandada por ela no Centro-Sul de BH.
A responsabilidade era grande. Bianca quase foi aos Jogos do Rio, em 2016, e tem no currículo uma medalha de prata em um campeonato pan-americano. Apesar de ser um esporte praticado desde a 1ª Olimpíada, em Atenas 1896, a esgrima ainda busca consolidação no Brasil. Por isso, o foco de momento é no desenvolvimento de jovens atletas.
“Há quatro anos, montei a sala de esgrima. Atualmente, estamos com uma equipe infantil, com turmas de 12 a 15 alunos. Tenho cinco crianças que fazem parte do circuito nacional”, afirma a treinadora. Entre os destaques estão Inácio Alvarenga, Gabriela Bauer, Davi Mourthé e Cecília Freitas, entre outras promessas. Foi neste ambiente que passei a ter contato com a atividade, que me acompanharia ao longo de duas semanas, aprendendo técnicas de movimentação, como guarda, marcha, romper e atacar.
“É um esporte diferente, mas a sala de esgrima tem a proposta da pessoa experienciar a modalidade para depois decidir se vai prosseguir ou não. Para isso, oferecemos todo o equipamento para crianças e adultos”, explica Bianca Dantas.
Na prática, é exatamente o que acontece. Contei com todo apoio do local e dos outros praticantes, que variavam dos muito jovens, entre 10 e 18 anos, até os mais experientes, entre 30 e 50 anos.
As maiores dificuldades surgiram nos primeiros dias. Sedentário e com dificuldades de respiração decorrentes do peso e de um desvio de septo, o cansaço me afetava já nos exercícios de condicionamento físico.
O combate, apesar de intenso, é feito majoritariamente por meio pequenos movimentos. O objetivo é fazer com que seu adversário abra a guarda, com algumas explosões, o que lhe permite uma maior recuperação física.
Com o passar dos dias, a técnica para defender foi a mais difícil de dominar. Não consegui aprender no prazo inicialmente estipulado. Apesar da lógica básica de usar a parte lateral da lâmina e o copo – parte que separa a pega da lâmina – para me defender, fui aconselhado a usar a ponta para manter o oponente mais distante possível de qualquer parte do corpo que pudesse ser tocada.
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O duelo com a campeã
A adversária, que também fez parte da sua formação na Esgrima Rapier, ficou definida nas primeiras conversas: a jovem Clara Amaral, campeã brasileira adulta individual em 2023, campeã brasileira por equipes em 2022 e semifinalista no campeonato pan-americano de Lima, realizado em 2022. Uma oponente de alto nível para provar a modalidade. Foi definido o critério olímpico para o combate: três tempos de três minutos ou quem somar 15 pontos primeiro.
Ao sair atrás por dois pontos, marquei o meu primeiro. Aquele que seria o da reação, que iria me impulsionar até a vitória, contou com reações efusivas de todos os presentes. Alegria que durou pouco. Os quase 15 anos de prática da adversária superaram a minha habilidade de iniciante. Ela abriu uma larga vantagem. Por fim, o confronto terminou 15 a 3 para Clara Amaral.
Apesar de ela dizer que não, sinto que um dos pontos marcados por mim foi um momento de compaixão de Clara com o rival inexperiente. Outro foi totalmente acidental, em uma tentativa de defesa que acabou em um contra-ataque inesperado por nós dois. E o último da contagem foi uma tentativa de ataque que deu certo por um momento de displicência de quem já tinha muitos tentos de vantagem.
A diferença de tempo de prática e de condicionamento físico criou uma discrepância muito grande no confronto. Ainda assim, a esgrima pode ser praticada com certa facilidade em curto tempo – não a ponto de ganhar uma grande competição ou ir para a Olimpíada, obviamente, mas que dê para aproveitar a experiência de forma completa. (Com Denys Lacerda)
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