Medalhista de bronze na Olimpíada de Paris, a ginasta Jade Barbosa fez um forte desabafo sobre a carreira nesta terça-feira (3/9), durante I Fórum Nacional do Esporte Seguro, promovido pelo Comitê Olímpico do Brasil (COB), no Rio de Janeiro. Ela falou sobre a mudança de cultura no esporte e alguns desafios passados ao longo dos anos.
“Vim de um clube que tinha um olhar mais individualizado, era como uma família. Quando cheguei na seleção, era uma outra realidade. Não existia o compromisso de ter um diálogo. Nós conquistamos isso. Eu também ouvi, assim como a Angélica, que eu queria acabar com a minha modalidade, que eu poderia ter feito de outra maneira. Eu escondi do meu pai que eu tinha tido cálculo renal e estava internada num hospital longe da minha família. Passamos por muita coisa ao longo desse tempo, mas hoje vemos que estamos no caminho certo. Acredito que se tivesse todo esse carinho que temos hoje durante toda a minha carreira, talvez os meus resultados fossem ainda melhores”, falou Jade.
Quem também compartilhou experiências parecidas foi Angelica Kvieczynski, da ginástica rítmica. Ao longo da carreira, aquela conquistou diversas medalhas em jogos Pan-Americanos e Sul-Americanos.
“Atualmente, sou treinadora de ginástica rítmica na Irlanda. Ver o brilho nos olhos das minhas atletas de tentar ser a melhor atleta do país, de chegar a uma seleção não tem preço. Hoje eu tenho foco em não replicar nada do que aconteceu comigo. Não foi fácil falar com elas, foi muito difícil. Acabei ficando triste depois de falar. Recebi muitas críticas dizendo que eu queria aparecer, queria mídia, pessoas do meio dizendo que eu queria acabar com a minha modalidade. Em algum momento me senti excluída. Senti falta de um acolhimento das instituições envolvidas, de traçar uma estratégia para que isso não se repetisse, que nenhuma menina mais fosse agredida. O sentimento era que o que eu fiz não tinha mais valor. Agora, estou fazendo um projeto de reestruturação da Ginástica Rítmica na Irlanda nos últimos dois anos. Estou provando que ter uma metodologia sem abuso dá resultado. Sou uma mulher, tenho meus instintos maternos e quero prover o melhor para minhas atletas”, contou.
Gabriel Campolina, do taekwondo, também compartilhou experiências. Há alguns meses, ele viveu uma situação de violência fora do ambiente esportivo, mas que, segundo ele, poderia ter influenciado em toda sua carreira caso tivesse tido alguma atitude diferente da que teve. Ele foi vítima de racismo numa estação de metrô em São Paulo.
“Tive que olhar pra frente para que essa situação não atrapalhasse o que eu quero ser. Eu quero ser campeão mundial, campeão olímpico e eu sei que se eu reagisse de uma maneira errada, isso iria atrapalhar meu futuro. Se eu tiver um temperamento negativo, um temperamento agressivo, eu vejo que eu também vou agir em casa, no treino. Os pensamentos que me dominaram naquela hora não podem me dominar sempre. Por conta dessa situação, eu fui parar na televisão, mas me tornei conhecido por ser atleta. Consegui reverter essa situação. Hoje, me tornei a pessoa brincalhona, comunicativa que eu sempre quis. Segui o conselho da minha mãe: olhe para frente e para o alto”, disse o atleta.