Campeão da Copa do Brasil de 2017 pelo Cruzeiro, Hudson expôs bastidores de uma situação vivida por Gilvan de Pinho Tavares, de 84 anos, logo após o jogo de classificação à final do torneio. O ex-meia afirmou que o então presidente do clube mineiro foi cobrado pelos jogadores no vestiário por uma promessa não cumprida.
Em entrevista ao Charla Podcast, nesse sábado (5/10), Hudson relembrou o episódio envolvendo o ex-mandatário celeste. O ex-jogador de 36 anos contou que Gilvan havia prometido quitar o salário atrasado do elenco antes da partida de volta da semifinal da competição, diante do Grêmio, no Mineirão, em Belo Horizonte, mas não conseguiu honrar a palavra.
“Esse dia é emblemático porque a gente classifica e vai para a final. No vestiário, o salário estava atrasado, só que o presidente falou que ia pagar na terça e isso já era quarta. Ele não pagou, e a gente foi para o jogo com o salário atrasado. Aí faz a roda (depois do jogo), todo mundo felizão, e o presidente veio pedir desculpa: ‘Desculpa, não consegui a verba para pagar vocês’”, iniciou.
Hudson contou que pediu a palavra no vestiário para mandar um recado a Gilvan em nome de todo o grupo de jogadores depois da vitória cruzeirense por 3 a 2 nos pênaltis, depois de 1 a 0 no tempo regulamentar. Na oportunidade, o ex-volante havia marcado o gol que levou a decisão para as penalidades.
“Eu com o peito cheio, tinha feito o gol que ajudou na classificação, falei assim: ‘Presidente, deixa eu dar uma palavrinha. Deixa eu te pedir um favor em nome do grupo. Quando você não tiver o dinheiro, é melhor falar que não tem do que criar uma expectativa para a gente falando que vai pagar e não pagar antes de um jogo decisivo. Que bom que deu tudo certo, mas, talvez, poderia ser um fator que alguns jogadores tivessem sentido a situação’”, completou.
Mano Menezes deu ‘puxão de orelha’ no ex-volante
A cobrança de Hudson também foi assunto no clube no dia seguinte. Ele revelou que Mano Menezes, então técnico do Cruzeiro, chamou atenção do ex-volante por ter exposto Gilvan.
“No outro dia, o Mano (Menezes) me chamou e deu um puxão de orelha. Ele falou: ‘Você não pode falar isso, você é um jogador que está emprestado, tudo bem que você fez o gol’. Mas naquele dia eu aprendi. Mas meu coração tocou de falar aquilo na época e falei”, concluiu.
Hudson estava emprestado pelo São Paulo ao Cruzeiro até o fim de dezembro daquele ano e tinha a possibilidade de ampliação do vínculo após o período. No entanto, a permanência no clube ficou ameaçada com a troca de comando da presidência em 2018 e não ocorreu.
“Era uma boa gestão, mas esse fato me marcou. Foi uma excelente gestão, tanto que quando acabou o ano os caras falaram para renovar comigo. Eu achei que ia ficar no Cruzeiro, tinha sido um ano muito bom para mim. Aí muda a diretoria, que era quem eles estavam apoiando, mas quando os caras assumem, três dias depois, mandaram todo mundo embora e trouxeram quem eles queriam. A minha permanência não ocorreu”, finalizou.
Hudson pelo Cruzeiro
Hudson defendeu o Cruzeiro em 39 jogos durante o ano de 2017. Ele chegou ao clube vindo do São Paulo, em uma troca de empréstimos que resultou na ida do atacante Neilton ao Tricolor Paulista.
Comandado por Mano, o meio-campista foi peça-chave na rotação do time pentacampeão da Copa do Brasil. Seu momento mais marcante com a camisa do Cruzeiro foi o gol decisivo diante do Grêmio.
Nas finais contra o Flamengo – 1 a 1 no Maracanã, e 0 a 0 no Mineirão -, Hudson foi titular e exerceu um papel importante. O volante converteu uma das cinco cobranças do Cruzeiro na vitória estrelada por 5 a 3 nas penalidades.
Gilvan foi presidente da Raposa
Gilvan administrou o Cruzeiro de 2012 a 2017. Apesar do bicampeonato brasileiro (2013 e 2014) e dos títulos da Copa do Brasil de 2017 e do Campeonato Mineiro de 2014, ele deixou o clube com crescente endividamento. Somente na Fifa, o clube enfrentou várias ações, com cobranças que, somadas, atingiam R$ 50 milhões na cotação da época.