23/02/2025
11:34

Cruzeiro gasta milhões e segue sem alcançar resultados esperados pela torcida

Time titular do Cruzeiro no jogo contra o América (foto: Alexandre Guzanshe/EM/D.A. Press)

Pedro Lourenço se tornou acionista majoritário da SAF do Cruzeiro em abril de 2024, mas suas contribuições financeiras ao clube ocorrem desde 2009. Por inúmeras vezes, antigos dirigentes recorreram ao dono do Supermercados BH para bancar folhas salariais e viabilizar contratações de jogadores. Em 16 anos de proximidade das gestões da Raposa, Pedrinho desenvolveu admiração pelo diretor de futebol Alexandre Mattos, que ganhou notoriedade na montagem do time bicampeão brasileiro em 2013 e 2014 e, posteriormente, na trajetória de quase cinco anos como executivo do Palmeiras.

Assim, ao assumir o controle da SAF do Cruzeiro, comprando 90% das ações do ex-jogador Ronaldo Nazário, Lourenço não teve dúvidas: convidou Mattos para ser o CEO de futebol do clube. O diretor vinha de passagem contestada pelo Vasco, que durou apenas três meses, entre dezembro de 2023 e março de 2024. Nesse período, o clube carioca comprometeu R$ 120 milhões de seu orçamento por nove jogadores, sendo a maior parte, de R$ 32 milhões, pelo zagueiro João Victor. Mattos também esteve por duas semanas no América, do qual se desligou, em 29 de abril, justamente em função do chamado de Pedrinho para a Toca.

O retorno ao Cruzeiro veio como grande chance para Mattos recuperar o prestígio dos tempos em que foi considerado um dos melhores profissionais de gestão esportiva do Brasil. E dinheiro não seria problema. Com o crescimento substancial da rede Supermercados BH, que faturou R$ 20 bilhões em 2024, Pedrinho abriu os cofres e deu carta branca ao diretor para reforçar o elenco. Mais de R$ 200 milhões foram investidos em jogadores – incluindo a permanência do zagueiro João Marcelo e do meia Matheus Pereira.

Pedro Junio, Alexandre Mattos e Pedro Lourenço tomam decisões na diretoria do Cruzeiro - (foto: Gustavo Aleixo/Cruzeiro)
Pedro Junio, Alexandre Mattos e Pedro Lourenço tomam decisões na diretoria do Cruzeiro(foto: Gustavo Aleixo/Cruzeiro)

O ultimato a Fernando Seabra

O técnico do Cruzeiro era Fernando Seabra, remanescente da administração de Ronaldo e que pouco tempo antes, em janeiro, havia sido vice-campeão da Copa São Paulo de Futebol Júnior. Mesmo sem “grife”, ele ajudou o time a começar bem o Campeonato Brasileiro – com direito a duas vitórias sobre o campeão Botafogo (3 a 2, no Mineirão, e 3 a 0, no Nilton Santos) – e a sonhar com o título da Copa Sul-Americana.

Após curta passagem pelo sub-23 do Bragantino, Seabra retornou à Raposa em um cenário conturbado ocasionado pelo mau desempenho de seu antecessor, o argentino Nicolás Larcamón, que perdeu a final do Mineiro para o Atlético e foi eliminado na estreia da Copa do Brasil pelo Sousa, clube paraibano da Série D. Com a troca de técnico ainda na “era Ronaldo”, o Cruzeiro deu indícios de que a temporada não estava perdida e se estabeleceu próximo ao ‘top-5’ no primeiro turno da Série A.

Fernando Seabra em jogo do Cruzeiro - (foto: Gustavo Aleixo/Cruzeiro)
Fernando Seabra, treinador de futebol(foto: Gustavo Aleixo/Cruzeiro)

As coisas começaram a mudar a partir de um áudio de Pedro Lourenço dando um ultimato a Fernando Seabra. Na gravação que se espalhou em grupos de WhatsApp, o dono da SAF revela ter exigido a escalação dos reforços na partida contra o Botafogo, pela 20ª rodada da Série A.

“Eu cheguei para o técnico e falei assim: ‘Ou você escala os jogadores que contratou ou você pode arrumando a sua mala aí que não passa desse jogo não’. Falei com ele que se não precisasse desses jogadores eu não teria contratado e ficaria só com os que estão aqui. Aí eu dei uma dura nele do caramba (…). Vai jogar hoje no ataque com o Lautaro, que é o argentino que veio, e o Kaio Jorge. O Matheus Henrique no meio, e o Walace vai ficar no banco porque ainda não está 100%. Mas vão jogar três dos contratados, vão sair de titular. Vamos ver o que vai dar. Tem que melhorar, pois os caras tão saindo caro. Você acha que eu dou mole, parti para cima dele (risos)”.

Áudio vazado de Pedro Lourenço sobre Fernando Seabra

A contratação de Fernando Diniz

As falas de Pedrinho repercutiram em todo o país. E o Cruzeiro, apesar de ter mantido o bom desempenho na Sul-Americana, caiu de produção no Campeonato Brasileiro. Essa, aliás, foi a justificativa para o empresário decidir pela demissão de Seabra, após empate fora de casa com o Cuiabá (0 a 0), em 22 de setembro, pela 27ª rodada do Campeonato Brasileiro. A equipe havia vencido apenas um dos oito últimos confrontos pela Série A.

Pedro Lourenço (acionista da SAF), Fernando Diniz (técnico do Cruzeiro) e Pedro Junio (vice-presidente de futebol) - (foto: Gladyston Rodrigues/EM D.A Press)
Pedro Lourenço (dono da SAF), Fernando Diniz (técnico do Cruzeiro) e Pedro Junio (vice-presidente de futebol)(foto: Gladyston Rodrigues/EM D.A Press)

Pedrinho e Alexandre Mattos buscaram Fernando Diniz, que estava sem clube desde junho, quando deixou o Fluminense, pelo qual se sagrou campeão da Copa Libertadores em 2023. Notabilizado por valorizar a posse de bola e a saída curta desde o campo de defesa, o técnico encarou o desafio de implantar sua metodologia já na reta final da temporada. Na prática, não funcionou, já que o Cruzeiro ampliou a série sem vitórias no Brasileirão e passou a ter dificuldades também na Copa Sul-Americana.

Perda da Sul-Americana e da vaga no ‘G8’ da Série A

No torneio continental, o Cruzeiro chegou à final em um cenário de pressão, uma vez que os resultados no Brasileirão começavam a colocar em risco a vaga na Libertadores. Deste modo, ganhar do Racing era uma espécie de “obrigação” para salvar o ano com um título de peso e justificar os mais de R$ 200 milhões investidos em reforços. O sonho da Raposa ruiu rapidamente, pois os argentinos logo abriram 2 a 0 e controlaram o restante do duelo, que terminou com placar de 3 a 1, em 23 de novembro.

Sem o título da Sul-Americana, o Cruzeiro precisava reagir no Brasileirão, de modo que não deixasse escapar o lugar no G8. Entretanto, a equipe obteve um retrospecto de duas vitórias, quatro empates e cinco derrotas nas 11 rodadas finais da Série A. O nono lugar, com 52 pontos, serviu apenas para avançar duas casas na Copa do Brasil e entrar diretamente na terceira fase.

Racing x Cruzeiro - (foto: JUAN MABROMATA / AFP)
Racing venceu o Cruzeiro por 3 a 1 na final da Copa Sul-Americana(foto: JUAN MABROMATA / AFP)

O Corinthians, que esteve sob a ameaça do rebaixamento, fez excelente campanha no returno e terminou em sétimo, com 56 pontos. O Bahia, apesar das oscilações, recuperou-se nas últimas rodadas e ficou com a oitava posição, com 53 pontos. Ambos se qualificaram para a segunda fase preliminar da Libertadores de 2025.

A ‘falta de convicção’

Na última rodada do Brasileirão de 2024, o Cruzeiro tinha remotas chances de ir à Libertadores. Para isso, precisava vencer o Juventude (feito alcançado) e torcer por derrota do Bahia para o já rebaixado Atlético-GO (o que acabou não acontecendo). Independentemente do desfecho na Série A, corria nos bastidores a informação de que Fernando Diniz não continuaria no clube em 2025. Porém, na entrevista coletiva após a partida em Caxias do Sul, em 8 de dezembro, o treinador desabafou.

“Eu espero que isso seja mentira (a demissão), porque eu custo a acreditar que uma pessoa chega pata mim e fala: ‘Você está até o final de 25, pelo menos’. Depois de uma semana, você está fora do negócio. Não tem problema, chega e fala que não tenho resultado, mas nessas condições, não. É muita falta de convicção”.

Fernando Diniz, ex-técnico do Cruzeiro - (foto: Alexandre Guzanshe/EM/D.A Press)
Fernando Diniz, ex-técnico do Cruzeiro (foto: Alexandre Guzanshe/EM/D.A Press)

A partir das queixas de Diniz, a diretoria do Cruzeiro mudou os rumos para 2025 e decidiu manter o técnico. A “falta de convicção” reapareceu com o desligamento do comandante já na terceira rodada do Campeonato Mineiro, em que o clube empatou por 1 a 1 com o Betim, no Mineirão.

As estrelas do elenco

Ainda com Fernando Diniz, o Cruzeiro apostou na montagem de um elenco de estrelas. As principais contratações foram dos atacantes Dudu e Gabigol, multicampeões por Palmeiras e Flamengo, mas distantes da forma física e do auge técnico que os transformaram em grandes ídolos desses clubes.

Outros jogadores de renome desembarcaram em Belo Horizonte, casos do lateral-direito Fagner, do Corinthians; do zagueiro Fabrício Bruno, do Flamengo; do meio-campista Eduardo, do Botafogo; e do atacante congolês Yannick Bolasie, que representou o Criciúma em 2024 e fez carreira na Premier League por Crystal Palace, Aston Villa e Everton.

Gabigol, jogador do Cruzeiro - (foto: Alexandre Guzanshe/EM/DA Press )
Gabigol, atacante do Cruzeiro(foto: Alexandre Guzanshe/EM/DA Press )

Os momentos de alegria dos cruzeirenses em 2025 foram sob o comando do auxiliar técnico Wesley Carvalho: vitórias sobre Itabirito (4 a 1) e Uberlândia (3 a 1). Nos demais duelos, o time passou sufoco e frustrou a torcida ao perder o clássico para o Atlético, por 2 a 0, dentro de um Mineirão com mais de 60 mil torcedores.

A frieza dos números aponta que Gabigol tem bom começo no Cruzeiro, com cinco gols em sete jogos. Todavia, há de se considerar que quatro desses tentos saíram em cobranças de pênalti (um em rebote). O camisa 9 ainda prejudicou a equipe ao ser expulso contra o Atlético por acertar cotovelada no zagueiro Lyanco.

O novo técnico

O Cruzeiro negociou com Renato Gaúcho, ex-Grêmio, para o lugar de Fernando Diniz, porém um desacerto na parte financeira inviabilizou o desfecho. A diretoria, então, foi atrás do substituto no exterior e chegou ao nome de Leonardo Jardim, português de 50 anos que estava no Al Ain, dos Emirados Árabes Unidos.

O grande trabalho de Jardim foi pelo Monaco, onde passou seis temporadas e conquistou o Campeonato Francês de 2016/17, bem como revelou ninguém menos que o astro Kylian Mbappé, ex-Paris Saint-Germain e atualmente no Real Madrid.

Pedro Lourenço apresentou o técnico Leonardo Jardim à torcida do Cruzeiro no Mineirão - (foto: Alexandre Guzanshe/EM/D.A Press)
Pedro Lourenço apresentou o técnico Leonardo Jardim à torcida do Cruzeiro no Mineirão (foto: Alexandre Guzanshe/EM/D.A Press)

Jardim ainda não venceu pelo Cruzeiro. Ele estreou na última rodada da primeira fase do Mineiro, em que o time perdeu de virada para o Democrata de Governador Valadares, na Arena do Jacaré, por 2 a 1. Em seguida, comandou a equipe nos clássicos com o América pela semifinal do Mineiro (empates por 1 a 1 e triunfo do Coelho nos pênaltis por 4 a 2).

Nesse sábado (22), Leonardo Jardim afirmou que já passou à diretoria alguns setores da equipe que carecem de melhorias visando às disputas de Copa do Brasil, Sul-Americana e Brasileirão. Seu recado foi claro: não basta dispor de muito dinheiro para comprar jogadores, é preciso ter sabedoria para usá-lo conforme as necessidades do time.

“Ter investimento não é sinônimo de ter bons jogadores. Em relação ao efetivo, com certeza que podemos melhorar, a direção sabe a minha opinião, em algumas peças que possam faltar, de forma a tornar a equipe competitiva. Esse é o objetivo e aproveitamos esse período de cinco semanas para tentar retificar esse tipo de situações e nós conseguimos progredir para outro nível”.

Leonardo Jardim

Matheus Pereira

Destaque do Cruzeiro em 2024 – 11 gols e 15 assistências em 59 jogos -, Matheus Pereira ainda não repetiu o nível de atuações em 2025. Paralelamente, ele demonstrou o desejo de sair do clube em meio à iminência de se tornar pai, já que tinha planos de criar o filho da Europa.

Matheus Pereira - (foto: Alexandre Guzanshe/EM/D.A Press)
Matheus Pereira, camisa 10 do Cruzeiro(foto: Alexandre Guzanshe/EM/D.A Press)

Ao receber uma proposta de 14 milhões de euros do Zenit (R$ 83 milhões), o Cruzeiro aceitou. Pereira também deu a entender que estava alinhado, pois realizou exames médicos em uma clínica de BH antes de firmar vínculo com os russos. De última hora, no entanto, o camisa 10 desistiu de assinar e optou por seguir na Toca, onde tem vínculo até junho de 2026.

Para preservar Matheus Pereira, Leonardo Jardim não o convocou ao clássico com o América. “É um dos jogadores importantes do efetivo. Ele não esteve presente por motivos externos, achei que era melhor jogar outros jogadores que estiveram preparados e trabalharam conosco. A partir deste domingo, é nosso jogador, nós confiamos no trabalho dele”.

O peso da eliminação no Mineiro

Com a eliminação para o América na semifinal do Campeonato Mineiro, o Cruzeiro ficará um mês sem disputar um jogo oficial. O próximo compromisso no calendário do clube é a estreia no Campeonato Brasileiro, contra o Mirassol, entre os dias 29 e 31 de março, no Mineirão.

Jogadores do Cruzeiro - (foto: Alexandre Guzanshe/EM/D.A. Press)
Jogadores do Cruzeiro abatidos após eliminação no Campeonato Mineiro(foto: Alexandre Guzanshe/EM/D.A. Press)

O peso do revés vai além do “buraco” na agenda. A ausência da decisão representa menos dinheiro nos cofres do clube, pois era esperado que o clássico como mandante contra o Atlético gerasse no mínimo R$ 5 milhões de bilheteira (acima de R$ 3 milhões líquidos).

Na parte histórica, o Cruzeiro completou seis anos sem vencer o Mineiro e alcançou jejum equivalente ao que ocorreu há mais de 40 anos. A Raposa levantou a taça do estadual em 1977, viu o arquirrival Atlético celebrar o hexa de 1978 a 1983 e só quebrou o jejum em 1984.

Confira a matéria completa em: noataque.com.br

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