(foto: Leandro Couri/EM/D.A Press)
Sócia minoritária da SAF do Athletic, a Tiberis apontou ilegalidades na venda das ações do clube para Thássilo Soares, agente do atacante Vinícius Júnior, do Real Madrid e da Seleção Brasileira. A empresa italiana entrou na Justiça alegando alienação indireta do controle da SAF, que teria começado na gestão de Vinícius Diniz e Fábio Mineiro. O No Ataque destrinchou os detalhes do processo.
De acordo com as leis da SAF, para que as ações sejam vendidas, o comprador deve figurar antes como um afiliado. Dessa forma, como acionista minoritária, a Tiberis seria uma das empresas que teria preferência na aquisição de percentuais numa futura venda.
A companhia italiana aponta ilegalidade na negociação com os novos acionistas majoritários, já que a empresa All Agenciamento Esportivo, de Thássilo Soares, não fazia parte do quadro de afiliados – requisito essencial para dispensa do direito de preferência.
Antes de a empresa All Agenciamento Esportivo entrar na jogada, as ações da SAF eram divididas da seguinte forma: Tiberis com 16,5%; e F&P Gestão Esportiva – representada por Fábio Mineiro e Jean Pierre Fernandes – com 68,5%. Os outros 15% estão distribuídos entre o Athletic (associação), a Construtora Felipão e a Testotrans.
A Tiberis ainda afirma que tomou conhecimento da transação pela imprensa e foi comunicada oficialmente da operação uma semana depois de o negócio estar fechado.
Venda para empresário de Vinicius Júnior
Nos últimos dias, Thássilo Soares, empresário do jogador, avançou pela compra das ações do clube de São João del-Rei. Neste novo negócio, o agente do astro do Real Madrid e da Seleção Brasileira se tornou dono de 53,5%, enquanto Fábio Mineiro ficou com 15% e permaneceu na diretoria de futebol. Já Pierre Fernandes acordou pela transferência total de sua parte das ações.
Contudo, como a empresa do agente de Vini Jr não fazia parte do quadro de afiliadas para que pudesse adquirir as ações da SAF, o negócio foi feito com a F&P. As partes entraram na Justiça para que fosse realizada a venda da quota limitada – fração do capital social de uma sociedade que representa a participação de cada sócio na empresa.
Dessa forma, a All Agenciamento adquiriu a quota da F&P. O capital social é de R$10.000,00 – foram vendidas 9.900 quotas (R$9.900,00) para a empresa do agente de Vini Jr, ao passo que Fábio Mineiro permaneceu com 100 quotas (R$ 100,00).
Alienação indireta da SAF
Em processo protocolado no Tribunal de Justiça de São Paulo, nesta sexta-feira (14/2), a Tiberis acusa a F&P de alienação do controle da SAF desde o princípio.
Segundo o documento, Vinicius Diniz – antigo majoritário que vendeu as ações para o empresário Fábio Mineiro em agosto de 2024 – já tinha, desde a origem, “um arranjo com Fábio”, à época iretor de futebol do Athletic.
A Tiberis ingressou como acionista da SAF em abril de 2024 e realizou aporte de R$ 8,25 milhões. Quando a empresa italiana entrou no negócio, foi prometido que ela teria direito numa possível compra futura, além de fazer parte do controle das categorias de base do clube. Contudo, conforme alegação da companhia, nada disso ocorreu.
A partir do investimento feito pela Tiberis, Vinicius Diniz, então controlador da F&P (antiga Futbraz), Fábio Mineiro e Jean Pierre – atuais controladores da F&P – colocaram em prática “tais iniciativas premeditadas” que são descritas pela empresa.
Por que a alienação?
Ainda segundo o documento, a alienação tinha como objetivo não atrapalhar a captação dos investimentos que seriam realizados pela Tiberis. Além disso, caso Fábio Mineiro assumisse como acionista, ele teria que deixar o cargo de dirigente.
A Tiberis diz que o empresário Vinicius Diniz teria figurado como um “laranja” de Fábio Mineiro, quando as duas partes haviam sacramentado entre eles que Vinicius entregaria o negócio a Fábio depois que os aportes da nova acionista fossem feitos.
Ainda no processo, a Tiberis deixou claro que a intenção dos empresários era, desde o início, repassar a SAF para um terceiro (que, neste caso, surgiu na figura do empresário de Vini Jr).
Dúvidas quanto à transparência da SAF
A Tiberis também aponta descontentamento quanto à transparência da SAF do Athletic. Em outro processo, a empresa questiona um repasse de verba pública no valor de R$ 9,49 milhões ao clube associativo entre os anos de 2021 e 2024.
No detalhamento de despesas, tal verba foi justificada pelo fomento e incentivo ao clube associativo nos campeonatos de futebol, incluindo as disputas do Campeonato Mineiro, Copa do Brasil e Campeonato Brasileiro (Série D e C).
Contudo, na constituição da SAF, feita em dezembro de 2022, o Athletic como clube associativo deixou de participar desses campeonatos e transferiu esse direito à SAF.
Ou seja, nos dois últimos anos em que recebeu verba da gestão municipal no valor de R$ 8 milhões – R$ 1,126 milhão em 2023 e R$ 6,74 milhões em 2024 -, o clube associativo não participou de tais campeonatos que justificariam o repasse.
Posicionamento do Athletic
A reportagem de No Ataque tentou contato por telefone e via mensagem com Fábio Mineiro, dirigente do Athletic, para comentar o caso, porém não obteve retorno. Assim que houver um posicionamento, a matéria será atualizada.
A operação
O No Ataque apurou que a compra da SAF do Athletic por Thássilo Soares foi fechada por entre R$ 15 milhões e R$ 20 milhões, além da garantia de investimento no futebol em longo prazo. Os valores são compatíveis com a expectativa de faturamento de um clube promovido do terceiro para o segundo escalão no país.
Nesta temporada, o Athletic faturará R$ 10 milhões de direitos de transmissão na Série B e terá receitas atreladas a transferências de jogadores, bilheteria e desempenho na Copa do Brasil.
A reportagem também soube que o staff de Vini Jr pretende abrir uma MCO (Multi-Club Ownership, que, em português, significa deter a propriedade de vários clubes).
Em Portugal, há conversas avançadas para a aquisição do Alverca Futebol Clube, que pertence à família do empresário Bruno Vicintin, ex-vice-presidente de futebol do Cruzeiro.
Reportagem com a colabração de Rafael Arruda
