Como abordado anteriormente, estamos no chamado “Agosto Lilás”, que é o mês dedicado à conscientização para o fim da violência contra a mulher. Sabemos que, na Lei Maria da Penha, estão previstos cinco tipos de violência doméstica e familiar contra a mulher: física, psicológica, moral, sexual e patrimonial. Hoje, gostaria de trazer destaque para uma delas: a violência psicológica.
Sem marcas físicas visíveis, a violência psicológica se instala lentamente. Seus sinais, muitas vezes, são difíceis de interpretar. Porém, ela pode ser tão dolorosa e devastadora quanto a violência física ou a sexual. A Lei Maria da Penha define violência psicológica como “qualquer conduta que lhe cause dano emocional e diminuição da autoestima ou que lhe prejudique e perturbe o pleno desenvolvimento ou que vise degradar ou controlar suas ações, comportamentos, crenças e decisões, mediante ameaça, constrangimento, humilhação, manipulação, isolamento, vigilância constante, perseguição contumaz, insulto, chantagem, violação de sua intimidade, ridicularização, exploração e limitação do direito de ir e vir ou qualquer outro meio que lhe cause prejuízo à saúde psicológica e à autodeterminação”. De forma resumida, a violência psicológica é toda forma de agressão à saúde mental e ao bem-estar emocional de uma pessoa, o que pode desencadear uma série de problemas psicológicos e emocionais como ansiedade, baixa autoestima e uma constante sensação de dependência do abusador. Além disso, também pode resultar em consequências físicas, direta ou indiretamente, como distúrbios alimentares, abuso de álcool e outras substâncias.
Identificar a ocorrência de violência psicológica pode não ser uma tarefa fácil. Algumas pessoas levam muito tempo para perceber que se encontram em um relacionamento abusivo. O próprio estado de sofrimento acaba por confundir a vítima. Muitas vezes, ela não consegue sair do relacionamento por acreditar que o outro aja daquela maneira apenas por “querer o seu bem”. Além disso, muitas vezes, mesmo quando a vítima tem a consciência do que está acontecendo, acaba se submetendo às regras do agressor, seja pela dependência emocional ou financeira ou pelo medo do abandono. A pessoa acaba naturalizando comportamentos como hostilidade, xingamentos, humilhações e intimidações.
É muito comum que a vítima de violência psicológica se afaste de amigos e familiares. O abusador tenta isolá-la, manipulá-la, controlar seus comportamentos e até mesmo seus pensamentos. A vítima costuma acreditar que sempre está errada ou, até mesmo, chega a pensar que merece sofrer essas violências. Todo esse sofrimento vai desgastando a saúde física e emocional dia após dia.
Um ponto extremamente importante a ser destacado é a necessidade do acolhimento e cuidado para com as vítimas de violência psicológica que, muitas vezes, têm suas vivências menosprezadas, invalidadas, e são tratadas como se elas se mantivessem no relacionamento abusivo porque querem. A vítima de violência psicológica costuma se ver presa em um ciclo aparentemente sem fim, mas que precisa urgentemente ser rompido. Porém, na grande maioria das vezes, para que isso aconteça, ela precisa de ajuda. Além das medidas judiciais cabíveis quanto a esse tipo de crime, é imprescindível que a vítima seja acompanhada por profissionais especializados.
Não se cale, denuncie. Ligue 180.
Larissa Souza e Silva
Psicóloga – CRP 04/53514
Pós-Graduada em Saúde Mental, Psicopatologia e Atenção Psicossocial
@larissasouzapsi
Foto destaque: Reprodução/Fernanda Nunes