02/10/2024
19:38

PESQUISAS “FAKES”: Um risco para a credibilidade do resultado das eleições

PESQUISAS “FAKES”: Um risco para a credibilidade do resultado das eleições

REDAÇÃO – A recente enxurrada de divulgações de pesquisas eleitorais registradas enseja um debate diferente do que vem sendo discutido. Os números conflitantes nas pesquisas mostram que o setor precisa ser regulamentado por lei. Pesquisas “fake” são risco para integridade das eleições. Essa discussão vem ganhando força pelos resultados tão díspares entre as pesquisas mais recentes. É realmente difícil acreditar no conjunto da obra.

Tem pesquisas, que mostram um candidato quase 20 pontos na frente do outro. Outras indicam cenários mais próximos do empate técnico. Quem tem razão?

O PESO DA METODOLOGIA

É sabido que há diferenças de metodologia. Algumas pesquisas são presenciais; outras são feitas por telefone. Isso, se verdadeiro, por óbvio deforma o resultado da pesquisa.

Ainda há grande diferença entre as pesquisas presenciais e as feitas por telefone. No passado, havia muita restrição para que esse tipo de pesquisa fosse considerada por causa da escassez de linhas telefônicas na população. Era um bem elitista. Hoje o telefone é um bem comum. Serve até para a proteção da posição do eleitor em uma eventual pesquisa, especialmente dos que receiam se mostrar a quem está pesquisando. Isso nos leva a registrar a diferença dos resultados entre as pesquisas.

Também há diferenças entre as amostragens de cada pesquisa. Nem todas podem seguir a metodologia de calcular o estrato da população em função do último recenseamento do IBGE. Sem contar que o próprio número do IBGE pode estar defasado da realidade da população pelo longo tempo sem a realização do novo censo. Tudo isso pode explicar ou não a diferença entre os resultados captados por empresas distintas. Mas certamente confunde muita gente. E como explicar as diferenças de resultados com empresas que têm a mesma metodologia?

TRANSPARÊNCIA E AUDITORIA

Também não há transparência a respeito das entrevistas descartadas pelas empresas de pesquisa, nem auditagem de todas as entrevistas realizadas. Há empresas que têm sistema de checagem on-line e acompanhamento da própria pesquisa no campo por um aplicativo no telefone celular do pesquisador, que acompanha a entrevista em tempo real. Outras não têm qualquer forma de controle, ou eventualmente dispõem de algo mais simples – apenas uma possibilidade de conferência em base de teste, com uma supervisão ligando para o entrevistado para conferir se houve ou não a entrevista.

Às vezes há dúvida até sobre a própria realização da pesquisa. Já cansamos de ouvir candidatos que pedem para alguém apontar um conhecido que tenha sido entrevistado alguma vez.

RESULTADOS INDUZEM VOTOS DIFERENTES

Por mais que falem que as pesquisas não influenciam o resultado das eleições, elas influenciam sim – as alianças políticas, os apoios que uma candidatura pode receber, o engajamento dos apoiadores e, ao fim do processo eleitoral, o voto em si. Uma parte da população não gosta de votar em quem vai perder. É o chamado voto útil. Outra parte dos eleitores tem o seu candidato já definido, mas se assusta ao ver a divulgação de números contrários a ele, e nem consegue de qual empresa fez a pesquisa.

A maioria não consegue discernir se determinada empresa de pesquisas é séria ou não. Para essa parte da população, só o fato da pesquisa ter sido divulgada pela televisão já significa que ela é verdadeira, independente de quem fez e da sua metodologia. Um exemplo: o fato de o eleitor não gostar de votar em quem acha vai perder pode fazer com que a eleição seja decidida.

A NECESSIDADE DE REGULAMENTAÇÃO

Não sou daqueles atacam as pesquisas só porque os resultados não seriam do meu agrado. Prefiro tentar entender as metodologias, comparar os levantamentos e verificar a evolução histórica dos números em comparação a pesquisas anteriores da mesma empresa. Sou do tempo em que só tínhamos duas ou 3 companhias que divulgavam pesquisas: o Ibope, o Datafolha e, muito tempo antes, o Gallup. O Ibope, uma marca muito forte no país que mede as audiências de TV para distribuição de verbas publicitário, saiu do mercado de pesquisas eleitorais. Seus antigos executivos montaram um novo estabelecimento, ainda desconhecido da maioria e sem tempo de estrada para ter a mesma credibilidade do Ibope nas suas divulgações. Isso pode vir com o tempo, mas não nessa eleição.

O Datafolha, que tem como principal ativo não trabalhar para partidos políticos, tem metodologias diferentes e sempre contestadas. Às vezes, nas eleições, tem resultados bastante diversos das urnas. As demais companhias são desconhecidas da maioria. Algumas são sérias. Outras são produto de interesses políticos ou comerciais. E aí fica o cerne da questão: que tal se, em vez de proibir a divulgação de pesquisas, tivéssemos uma rigorosa legislação e quem se aventurar nesse segmento tenha que cumprir esses requisitos da lei?

Toda atividade que tem impacto na vida das pessoas tem regulamentação. As empresas de pesquisas também não deveriam ser regulamentadas? Se estamos combatendo as chamadas fake news com responsabilização penal, também não deveríamos combater as pesquisas fakes? A divulgação de pesquisa fake não conta como fake news? Tem empresa divulgando pesquisa por aí que nem sabemos de onde veio, se tem técnico responsável, se cumpre regra mínima de transparência, se pode ser auditado, se tem a quem se responsabilizar etc. Não adianta o registro na Justiça Eleitoral ser obrigatório se não sabemos e não podemos aferir se a pesquisa está sendo feito da forma correta ou não.

Como fica a credibilidade do resultado do pleito eleitoral, com pesquisas tão conflitantes divulgadas às vésperas das eleições? Definitivamente, precisamos lutar para o fim dessa possibilidade de manipulação. O risco é que o próprio resultado eleitoral seja manipulado.

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