BOM JESUS DO GALHO – A Câmara Municipal de Bom Jesus do Galho promove hoje a segunda votação da reforma administrativa com foco em cargos comissionados. Se aprovado, o projeto concederá aumentos de até 40% nos salários dos comissionados. O Chefe Executivo de Gabinete, por exemplo, passará a receber R$ 9 mil, enquanto cargos como Assessor de Administração e Assessor de Saúde terão vencimentos fixados em R$ 7 mil. Para muitos, esses valores representam um contraste gritante com a realidade dos servidores concursados, incluindo alguns profissionais da educação que ainda recebem salário abaixo do mínimo.
Os reajustes evidenciam disparidades significativas. Enquanto Escriturário Educacional e Supervisor Pedagógico possuem salários superiores a R$ 4 mil, professores seguem submetidos a uma legislação específica que mantém seus vencimentos em patamares inferiores. A falta de equidade salarial intensifica a insatisfação entre as categorias.
Vereadores da oposição alertaram para os danos à confiança popular nas instituições públicas. “Projetos como este criam um abismo entre a gestão e os cidadãos, reforçando a ideia de que a máquina pública não trabalha para eles”, afirmou um parlamentar.
Os vereadores da base governista defenderam os aumentos como um passo necessário para atrair profissionais qualificados e modernizar a gestão pública. “Esse é um avanço para o município, que precisa se reestruturar para oferecer melhores serviços à população”, afirmou um parlamentar favorável.
Por outro lado, a oposição criticou duramente os projetos, classificando-os como “um retrato de privilégios”. “Estamos criando salários elevados para poucos enquanto os servidores que realmente sustentam o município seguem desvalorizados. E não se trata de criação de novas oportunidades, novos postos de trabalho, mas de aumento para poucos “escolhidos””, declarou um vereador contrário.
VOTAÇÃO E REAÇÕES
Na votação do projeto de reforma administrativa, seis vereadores foram favoráveis: Eliézer, Fernando Guimarães, Juliana Batista, Louriberto Teles, Reginaldo Eustáquio e Samuel Lopes. Dois votos contrários vieram de Borel e João Paulo, enquanto Paulinho do Açougue e Sávio Guimarães estavam ausentes.
A vereadora Juliana, da oposição, justificou seu voto a favor como sendo “de coração”. Ela abriu seu pronunciamento dizendo que não estava sob qualquer pressão e que não recebeu propina, mas demonstrou preocupação com possíveis perseguições políticas.
Servidores também se posicionaram contra. “É inaceitável que cargos de indicação política sejam tão valorizados, enquanto quem passou em concurso público é deixado de lado”, afirmou um trabalhador.
CAPITAIS BRASILEIRAS
Há cerca de 40 dias, a Câmara Municipal de Bom Jesus do Galho aprovou um projeto do Executivo que fixa os salários do prefeito em R$ 17 mil, do vice-prefeito em R$ 12 mil e dos vereadores em R$ 7 mil. A proposta, sancionada pelo prefeito, foi alvo de críticas pela disparidade salarial com os servidores efetivos e por priorizar cargos de confiança.
Os salários aprovados colocam o município em um patamar próximo ao de algumas capitais brasileiras. No ranking nacional, segundo sites da transparência das cidades, Vitória (ES) e Florianópolis (SC) oferecem remunerações de R$ 17.600, apenas R$ 600 acima do valor estipulado em Bom Jesus do Galho. Essa equiparação surpreende quando comparada à estrutura administrativa e à arrecadação de uma capital em relação a um pequeno município de Minas Gerais.
Já o salário do vice-prefeito, de R$ 12 mil, supera o de algumas capitais como Maceió (AL), onde o vice recebe R$ 11.424. No caso dos vereadores, que terão vencimentos de R$ 7 mil, a diferença também é expressiva, considerando que em capitais maiores o valor varia entre R$ 9 mil e R$ 20 mil. Essas comparações evidenciam um descompasso entre o porte do município e os salários aprovados, levantando questionamentos sobre prioridades orçamentárias e a necessidade de ajustes mais condizentes com a realidade local.
Bom Jesus do Galho, com uma população estimada de cerca de 15 mil habitantes, ostenta salários do prefeito e do vice que competem com cidades de maior porte. Ainda para efeito de comparação, Florianópolis (SC), com aproximadamente 520 mil habitantes, paga R$ 17.600 ao prefeito, apenas R$ 600 a mais do que os R$ 17 mil aprovados para Bom Jesus do Galho. “Essa disparidade entre número de habitantes e remuneração levanta dúvidas sobre a proporcionalidade da decisão e a adequação das políticas públicas locais às necessidades da população”, observa um munícipe.
Outro ponto de atenção é o salário dos vereadores, fixado em R$ 7 mil. Em cidades pequenas, como Bom Jesus do Galho, onde os desafios administrativos são mais localizados, essa remuneração aproxima-se de valores praticados em municípios muito maiores, como em Vitória (ES), onde o salário será reajustado de R$8.966,00, para R$ 17.680. A verba de gabinete é de cerca de R$ 36 mil reais. “Esse cenário reforça a necessidade de uma análise criteriosa sobre a aplicação dos recursos públicos em relação ao impacto direto na vida da população”, sublinha o munícipe. Ele destaca ainda que “embora o salário do vereador esteja dentro do limite constitucional, esse valor levanta questões sobre a moralidade do gasto público em um município com Índice de Desenvolvimento Humano Municipal (IDHM) de 0,623, considerado médio, e com desafios significativos em áreas como saúde, educação e infraestrutura. “A reflexão entre o que é legal e o que é moral torna-se essencial, considerando o impacto desse aumento no orçamento municipal e na percepção pública sobre o uso dos recursos. A discussão sobre essa mudança deve levar em conta se os representantes eleitos estão promovendo ações que realmente atendam às demandas mais prementes da comunidade”.
SALÁRIOS E ARRECADAÇÃO
A arrecadação de Bom Jesus do Galho, em 2023, foi inferior a R$ 50 milhões, o que destaca o peso relativo dos salários no orçamento público. Comparando com capitais como Vitória (ES), que arrecada mais de R$ 2 bilhões por ano, a diferença é colossal. Ainda assim, a remuneração do prefeito de Bom Jesus do Galho é quase equivalente à de Vitória, evidenciando a desproporcionalidade entre arrecadação e gastos com o alto escalão.
“Para um município pequeno, onde a maior parte da receita depende de repasses estaduais e federais, direcionar valores elevados para salários de agentes políticos pode comprometer a capacidade de investimento em áreas prioritárias, como saúde e infraestrutura. Esse contraste torna o debate sobre o uso eficiente dos recursos ainda mais urgente, especialmente em um cenário de insatisfação popular e restrições orçamentárias”, comenta um morador do distrito de Revés do Belém.
DISPARIDADES
Bom Jesus do Galho, com arrecadação inferior a R$ 50 milhões em 2023, enfrenta críticas pela priorização de gastos com altos salários em detrimento de investimentos em saúde, educação e infraestrutura. Para o vereador João Paulo, da oposição, decisões como essas comprometem o futuro do município e ampliam a insatisfação entre os moradores.
“Espero que a segunda votação da reforma administrativa seja um marco no debate sobre justiça salarial e prioridades públicas. A expectativa é de que o resultado reflita a pressão popular e os reais interesses da comunidade”, conclui.
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