Mesmo com a ascensão meteórica de clubes do interior como Athletic e Itabirito, o Campeonato Mineiro de 2025 expõe realidades financeiras extremas entre os participantes, com Atlético e Cruzeiro em um patamar financeiro até 100 vezes maior que os rivais.
Neste ano, a folha salarial do Atlético, mantida em R$ 251 milhões anuais (ou cerca de R$ 20,9 milhões por mês), e do Cruzeiro, que ultrapassou a marca de R$ 20 milhões mensais, são significativamente maiores do que as de outros clubes do campeonato.
Para efeito de comparação, equipes como Pouso Alegre e Uberlândia operam com orçamentos mensais inferiores a R$ 400 mil – menos de 2% das folhas de Atlético e Cruzeiro.
A principal contratação do Cruzeiro para a temporada, o atacante Gabigol, simboliza esse poder financeiro. Com um salário estimado em R$ 3 milhões mensais, o jogador representa sozinho quase 15 vezes o custo mensal de equipes como o Pouso Alegre.
Investimentos estratégicos
Enquanto Atlético e Cruzeiro gastam valores astronômicos, os clubes intermediários buscam competir com orçamentos mais modestos, mas ainda significativos dentro da realidade do futebol mineiro.
A equipe de No Ataque apurou nesta semana, com cada um dos 12 times participantes do Estadual, a folha salarial neste início de temporada.
- Athletic: Mantém uma folha salarial em torno de R$ 1 milhão por mês, posicionando-se como uma força emergente no cenário estadual. O time de São João del-Rei, inclusive, vai disputar a Série B do Campeonato Brasileiro pela primeira vez.
- Tombense: Opera com aproximadamente R$ 800 mil mensais, apostando na continuidade de seu projeto de crescimento mesmo com a permanência na Série C.
- Betim: Transformado em Sociedade Anônima Futebolística (SAF) no ano passado, possui uma folha salarial entre R$ 300 mil e R$ 400 mil, sustentada principalmente por patrocínios que totalizam cerca de R$ 3 milhões anuais.
- Itabirito: Apesar de contar com jogadores renomados como o atacante Jô, que defendeu Atlético e Corinthians, a equipe reduziu a folha salarial de mais de R$ 500 mil em 2024 para menos de R$ 400 mil em 2025, adotando uma postura financeira mais cautelosa.
Desafios e superação
Os clubes com folhas salariais mais modestas enfrentam o desafio de competir em um torneio onde os gigantes financeiros ditam as regras.
- Aymorés: Tem uma folha entre R$ 400 mil e R$ 500 mil por mês.
- Villa Nova: Trabalha com uma folha entre R$ 350 mil e R$ 390 mil.
- Uberlândia: Opera com aproximadamente R$ 345 mil por mês.
- Pouso Alegre: Conta com uma folha salarial ainda mais reduzida, em torno de R$ 200 mil mensais.
Esses clubes representam menos de 2% da folha salarial de Atlético e Cruzeiro, evidenciando o abismo financeiro no campeonato.
América e Democrata-GV fazem mistério
No Democrata, mesmo sem revelar valores específicos, o diretor executivo Rafael Caldeira ressaltou as nuances financeiras e os desafios do clube.
“Atlético, Cruzeiro e América não se comparam porque lá é diferente. Só que aí você tem outros times que também estão investindo e têm um poder aquisitivo mais forte: Athletic, Tombense, Itabirito… Todos os times têm investido. A gente aqui também, nas nossas proporções. Mas estou feliz com a montagem do elenco e com o que a gente tem feito até agora”, afirmou o dirigente.
Ele ainda destacou a estratégia da equipe para o campeonato. “A gente fez uma mescla de jogadores experientes e jovens. O campeonato vai ser tiro curto e a gente sabe que vai exigir muito dos atletas”, ressaltou.
No América, o tom foi de prudência e realismo, como enfatizou o presidente da SAF do clube, Alencar da Silveira Jr.
“Eu prefiro não falar disso [folha salarial], se é R$ 3 milhões, R$ 10 milhões, não estamos divulgando. Vai ser apresentado esse orçamento aos conselheiros. Vamos ter um ano sem extravagência, buscando nas origens, fazer muito com o pouco que temos. Fazer o futebol dentro desse orçamento, continuar pagando em dia, sem surpresas, administração dentro da possibilidade, sem fazer dívidas”, disse.
A disparidade salarial entre os clubes no Mineiro de 2025 reforça a diferença de condições e, potencialmente, de resultados. Prova disso, é que um time do interior não vence a competição há quase duas décadas. O último campeão fora de Belo Horizonte foi o Ipatinga, em 2005.
*Colaboraram: Andrei Megre, Izabela Baeta, João Victor Pena, Lucas Sant’Ana, Rafael Cyrne, Samuel Resende e Sofia Cunha.
A notícia Atlético e Cruzeiro têm folhas salariais até 100 vezes maior que adversários no Mineiro foi publicada primeiro no No Ataque por Ailton do Vale