A pacata – e silenciosa – comuna de Lupfig, na Suíça, reúne diversos ingredientes para uma vida tranquila: florestas, população reduzida, predomínio das casas em relação aos prédios e afastamento dos grandes centros são alguns deles. Ainda assim, o barulho dos estilhaços da quebra de um copo nunca é o som final em uma das residências da região. Torcedor do Atlético, o brasileiro Sanzio Zagnoli, de 49 anos, é sempre o responsável pelos gritos de “Galo” que podem ser ouvidos vizinhança afora. Apaixonado pelo clube desde os primeiros anos, o salva-vidas será mais um dos atleticanos presentes na final da Copa Libertadores, a ser disputada na Argentina.
A infância e a adolescência no Bairro Planalto, na Região Norte de Belo Horizonte, foram recheadas de idas ao Mineirão e histórias ao lado do Atlético. Com amigos e vizinhos, Sanzio iniciou a trajetória sentimental que carrega até os dias de hoje, mesmo a milhares de quilômetros de distância do clube.
“Eu ia sempre na Vila Olímpica! Era sócio de lá. Os jogadores treinavam lá naquela época. Jogadores ruins, né? Éder Aleixo, Reinaldo… A turma toda de 81, 82. (…) Assim começou o amor pelo Galo. Agora, já passou para os filhos. Difícil quando você fala de paixão. Muito difícil. O olho brilha.”
Sanzio Zagnoli, torcedor do Atlético, ao No Ataque
Em 2005, outro amor foi fator determinante para a decisão mais impactante da vida do atleticano: junto à esposa Christina, se mudou para a Suíça para dar suporte ao sogro, que àquela altura enfrentava problemas de saúde. “Infelizmente, não está mais entre nós, mas vai estar lá na Libertadores comigo – porque, mesmo não gostando de futebol, sabia que era Galo”, disse à reportagem.
Paixão que supera distâncias
A residência que abriga os Zagnoli em Lupfig aproxima os corações da família a Belo Horizonte. As referências ao Atlético são inúmeras: desde o cachorro e o gato com pelugens em preto e branco até o pebolim que tem adversário vestido com a cor azul e um goleiro “de costas” – em referência e provocação a lance protagonizado por Fábio, ídolo do arquirrival Cruzeiro, na final do Campeonato Mineiro de 2007.
A diferença entre os fusos horários é fator dificultador para quem precisa viver a paixão à distância. Como muitos dos jogos do Atlético ocorrem na madrugada europeia, Sanzio esbarra nos desafios impostos pela atribulada rotina como pai de dois garotos.
“A primeira coisa depois de uma noite de jogo é ligar o celular e ver quanto foi. Aí já acorda alegre ou fica p* o dia todo porque perdeu (risos). Mas acompanhar todos os jogos direto, de madrugada, não dá. Se não você vive outra vida”, contou ao No Ataque.
Os filhos Luca e Tiago, de 16 e 10 anos, respectivamente, herdaram o amor do pai pelo Galo. Fanáticos, os garotos tiveram recentemente a oportunidade de realizar um sonho: conheceram a Arena MRV em uma das visitas ao Brasil, em duelo que terminou com vitória do Atlético sobre o Vasco, por 2 a 1, pela semifinal da Copa do Brasil.
A – complicada – logística para viver a paixão na Argentina
Sanzio encerrará 2024 com horas de trabalho “negativas” para acompanhar o Atlético in loco na final da Libertadores. Seguir distante do Galo na partida histórica, no entanto, não foi opção: “Meu chefe liberou alguns dias. Isso aí é fácil de recuperar”, brincou.
A logística envolverá três voos em viagem que deve ter fim poucas horas antes do apito inicial no Estádio Monumental de Núñez, em Buenos Aires. O salva-vidas deixará Lupfig na tarde desta sexta-feira (29/11) para chegar ao destino final no início da tarde do sábado (30/11), dia da grande decisão.
A trajetória de Sanzio para a final da Libertadores
- De Lupfig a Zurique: 31,2 km
- De Zurique a Madri: 1.238,8 km
- De Madri a Montevidéu: 9.948,1 km
- De Montevidéu a Buenos Aires: 220,2 km
Total: 11.438,3 km
A volta será já na tarde da segunda-feira (2/12), em trecho que exigirá menos conexões: de Buenos Aires a Madri e de Madri a Zurique. Toda a programação exigiu investimento de cerca de 850 francos suíços, além de outros 210 dólares pelo voo de Montevidéu a Buenos Aires – os valores correspondem a pouco mais de R$ 7 mil nas cotações atuais.
A expectativa, evidentemente, é voltar ao Velho Continente com o bicampeonato “na bagagem”. Ao No Ataque, Sanzio disse o que espera dos comandados de Gabriel Milito na decisão contra o Botafogo.
“O que eu espero do time do Galo é que dê raça. Sempre o que esperamos do time: que corra, que jogue pensando que é uma final. É para jogar uma final. Com raça e determinação. Tem que ter sangue nos olhos. Final em um único jogo”, afirmou.
“Penso que o Botafogo é o favorito, mas do outro lado tem um time experiente. Não quero passar favoritismo. Se o Galo fosse favorito, eu falava. O Galo tem que jogar com raça, e eu espero que todo mundo entre ligado no jogo”, prosseguiu.
Sanzio será um entre os mais de 20 mil atleticanos esperados em Buenos Aires para a final da Libertadores. A decisão entre Atlético e Botafogo será disputada neste sábado (30/11), a partir das 17h, na casa do River Plate em Buenos Aires.
A notícia Da Suíça à Argentina: torcedor viaja mais de 11 mil km para ver Atlético na final da Libertadores foi publicada primeiro no No Ataque por Lucas Bretas
