O estudante pernambucano Jackson Silva, de 18 anos, do terceiro ano do ensino médio, está ansioso na preparação para a segunda prova do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) no próximo domingo (10). Além de estudar, resolveu se inspirar. Ele pretende, no final da aula da escola pública em que estuda, saber mais da área que deseja cursar: tecnologia da informação. E também se divertir um pouco como gamer. O cenário dessa inspiração é o local em que está acostumado a curtir o carnaval em fevereiro. Desta vez, porém, é outra folia. O tradicional bairro do Recife Antigo recebe, até sábado (9), uma programação com mais de 600 atividades gratuitas em evento de tecnologia chamado de Festival REC’n’Play, que chega à sua sexta edição, com o tema “O futuro nos conecta”.Os organizadores estimam que mais de 80 mil pessoas devem se inscrever para participar do encontro. Somadas, são mais de 1,5 mil horas de atividades voltadas para inovação, negócios, cultura e entretenimento, com cerca de mil palestrantes e debatedores em pelo menos 70 espaços da localidade.
Confira aqui a programação do evento.
Entre os realizadores do festival está o Porto Digital, uma iniciativa que nasceu há 24 anos e que viabilizou a organização de 415 empresas (em geral startups), que hoje empregam 18,4 mil pessoas, que produzem principalmente software. Segundo o presidente do Porto Digital, o professor Pierre Lucena, da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), os produtos realizados têm impacto social direto, inclusive em comunidades periféricas do estado. “Não se faz inovação sem povo e sem a periferia”, considera. Ele citou o programa de fomento denominado “Embarque Digital”, parceria com a prefeitura da capital, que viabiliza o benefício de 600 bolsas para que pessoas em vulnerabilidade possam estudar tecnologia.
Logo que foi instalado no centro do Recife (a região que era evitada pelos pontos de drogas e furtos), o projeto passou a atrair novo cenário de participação popular. “O Porto Digital tem dois propósitos: o primeiro é fazer o restauro do tecido urbano central no bairro do Recife. E o segundo, o de ser esse projeto gerador de emprego e renda.
“É possível transformar”
De acordo com o professor Silvio Meira, emérito da UFPE, empreendedor na área de engenharia de software e um dos fundadores do Porto Digital, a iniciativa do evento busca renovar e redesenhar perspectivas para as pessoas no centro histórico do Recife. “Começamos (em 2000) com cinco empresas e 46 pessoas. Hoje, são quase 20 mil pessoas trabalhando e cerca de R$ 6 bilhões de faturamento. É possível transformar os centros das cidades, mas é preciso resiliência e determinação”, afirma.
Para Meira, a iniciativa ajudou a alterar o cenário urbano no lugar mais precioso da cidade. “A gente precisou fazer um conjunto de operações para promover a inovação, por meio do Porto Digital, para reviver a cidade. É isso que você está vendo aí no meio da rua”.
Desafios
Apesar dos avanços, conforme Pierre Lucena, as novas empresas de tecnologia têm uma série de desafios. Ele considera que um dos principais é a formação de trabalhadores. Outro é a atuação por um modelo de negócio adequado para a formação de mercado
Projeto nacional
Ele identifica a necessidade de mais instituições de ensino superior e também de técnicas e profissionalizantes para oferecerem mais vagas. “Nos cursos presenciais no Brasil todo, só 29 mil pessoas são formadas em cursos de tecnologia da informação por ano. O curso de direito forma mais de 110 mil. Esse é um problema fundamental: a ausência de um projeto nacional de formação para a área”, disse Pierre Lucena.
Ele lembra que em países como a Índia e Portugal aulas de programação são trabalhadas desde a infância. O professor considera que se trata de um promissor campo de trabalho e pesquisa para quem desejar ingressar no curso. Para Lucena os campos das plataformas de inteligência artificial ou mesmo de segurança cibernética podem ser promissores para o futuro da tecnologia.