24/11/2024
19:22

Fuga? Saques da poupança superam aplicações em R$ 11,2 bilhões no Brasil

Fuga? Saques da poupança superam aplicações em R$ 11,2 bilhões no Brasil

Garantir uma boa taxa de rendimento na reserva de emergência ou em um investimento para realização de algum sonho ou desejo futuro é um dos primeiros pontos a serem avaliados no momento de uma aplicação financeira. E com a poupança tendo um rendimento mais baixo, em comparação a outras modalidades, as retiradas de valores têm sido cada vez mais expressivas.

Em 2023, o sistema encerrou o ano com R$ 3,82 trilhões em aplicações, contra R$ 3,91 trilhões em saques – uma diferença de R$ 87,8 bilhões, de acordo com dados do Banco Central (BC). Neste ano, dados consolidados até setembro indicam o mesmo cenário. Os brasileiros depositaram R$ 3,10 trilhões, mas retiraram R$ 3,11. A diferença entre os valores é de R$ 11,2 bilhões.

Os resultados, de acordo com o professor de Ciências Econômicas do Ibmec-BH Gustavo Guimarães Andrade, evidenciam que os resgates ocorrem, dentre outros motivos, pela transferência para outra modalidade de investimento com maior rentabilidade. O especialista salientou que com o crescimento da inflação os valores reservados em poupança acabam tendo um poder de compra menor ao longo do tempo.

“Mas pelo próprio uso da poupança como recurso. E aqui já vale entrar na seara sobre como a poupança perdeu muita relevância como investimento, independente da faixa de renda que a população esteja ou o investidor tenha para aplicar. Não só porque existem vários outros ativos melhores, mas principalmente porque a poupança, em geral, apresenta uma corrosão do poder de compra muito grande ao longo do tempo”, disse o docente.

Guimarães complementou indicando que, posto o cenário, o Tesouro Direto passou a ser uma opção mais utilizada pela população. Em agosto, dados do Tesouro Nacional indicam que foram realizadas 716.115 operações de investimento em títulos públicos, somando R$ 8,01 bilhões – o maior valor da série histórica. No período, os resgates somaram R$ 12.95 bilhões, também maior cifra observada.

Ganhos
A rentabilidade atual da caderneta de poupança é dada pela taxa referencial (TR) mais uma remuneração fixa de 0,5% ao mês – 6,17% ao ano. Em 2023, a TR não chegou a 2%. Por outro lado, no Tesouro Direto, os rendimentos são distintos a depender da modalidade aplicada. O Tesouro Selic tem um rendimento conforme a taxa de juros, atualmente em 10,75%, mais 0,0561%.

No Tesouro IPCA+, a rentabilidade seguirá a inflação oficial do país mais uma taxa em torno de 6%, a depender do prazo para resgate do valor investido. “Ativos reais têm que ganhar cada vez mais parcela no patrimônio dos investidores, ou seja, não se preocupar com a corrosão do seu patrimônio a partir da variação do nível de preços. Esses ativos, o que a gente chama de ativos de juros reais, são bastante relevantes e podem ser encontrados, por exemplo, no Tesouro Direto”, exemplificou.

Consumo em alta
No mesmo sentido, o conselheiro do Conselho Regional de Economia de Minas Gerais (Corecon-MG) Gelton Pinto Coelho reforçou que a busca por novos investimentos está aumentado nos últimos anos, com recordes seguidos nos valores de saques. O cenário, na avaliação dele, está diretamente ligado à elevação da Selic, mas também a um aumento de consumo. Ao final do primeiro semestre, o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatísticas (IBGE) apontou alta de 1,3% nos gastos das famílias brasileiras. Em comparação ao mesmo período de 2023, o avanço foi de 4,9%.

“Esse aumento de consumo pode levar a duas situações, ou ao endividamento, e aí esse pequeno endividamento é melhor você retirar a reserva do que pagar juros, que ainda são abusivos do cheque especial e do cartão de crédito, e a questão também do pagamento de dívidas. A gente ainda tem uma taxa muito alta de endividamento da população, mesmo tendo melhorado, a gente ainda vê uma dificuldade das pessoas em pagar as contas do mês”, observou.

O economista ainda aventou outra possibilidade de maior confiança da população na manutenção do emprego e da renda. “Por exemplo, o aumento da compra de veículos tem sido uma coisa assustadoramente constante pelas taxas de juros, pelo endividamento, mas isso mostra, por outro lado, a segurança das pessoas na manutenção do emprego e da renda. Quando você faz uma compra de maior prazo, você faz na expectativa que você vai manter o emprego ou melhorar a renda, e essa percepção da economia também pode fazer com que as pessoas estejam retirando esse dinheiro da poupança para comprar outros tipos de bens”, assinalou.

 

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