21/11/2024
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Como o Lanús, clube de bairro, ousou desafiar grandes como Cruzeiro, Atlético e Grêmio? < No Ataque

La Fortaleza, em Lanús, na Argentina (foto: Lucas Bretas/No Ataque/D.A.Press)

A cerca de 12km do centro de Buenos Aires, quem avança pela Avenida Ramón Cabrero se depara com uma construção imponente: o Estádio Néstor Díaz Pérez, também conhecido como “La Fortaleza” – casa do Lanús. O nível da estrutura ajuda a explicar o crescimento do clube, que ao longo da história recente já desafiou gigantes como Atlético, Cruzeiro e Grêmio e se firmou neste século com títulos do Campeonato Argentino e da Copa Sul-Americana.

Por ser um clube de origem humilde, o Lanús cresceu “pouco a pouco”. Não houve, por exemplo, injeção de recursos por parte de empresários – cenário cada vez mais comum no Brasil.

O “Granate”, como é conhecido, tem função social importante na região em que está sediado. O clube faz a gestão de uma escola particular e oferece apoio para os jovens com equipes em diversos esportes – como basquete, handebol, tênis, vôlei e ginástica artística.

Justamente por oferecer ensino de qualidade, o Lanús ganhou ainda maior popularidade no bairro. Há relatos de diversos pais de famílias que trocaram as cores do popular Independiente pelas do Lanús em virtude de sua atuação social.

A história do Lanús

Fundado em 1915, o Lanús sempre foi um clube distante dos principais holofotes na Argentina. Ao fim dos anos 1980, o “Granate” chegou a estar na Terceira Divisão do país e próximo de deixar de existir por excesso de dívidas.

“Neste momento da história, a paixão dos torcedores fez a diferença. Um grupo de ‘colorados’ [como são conhecidos os apaixonados pelo Lanús] chegou a colocar bens como as próprias residências como garantia junto aos credores para que o clube não fosse à falência”, relatou David Caruso, jornalista argentino, à reportagem de No Ataque.

Em 1992, o Granate subiu à Primeira Divisão. Houve união política entre os diretores com um único objetivo: não permitir com que a equipe fosse rebaixada novamente.

As categorias de base tiveram papel fundamental. Como nunca teve poderio econômico para concorrer com os gigantes argentinos, o Lanús sempre apostou nas “canteras” para fazer frente aos rivais.

Nomes como os ex-meias Ariel Ibagaza e Hugo Morales foram fundamentais nesse período, coroado com título da extinta Copa Conmebol em 1996 – o primeiro da história da instituição.

“Os melhores jogadores da história do Lanús, em sua maioria, vieram das categorias de base. É o ponto mais forte do clube.”

Lorenzo Bermúdez, torcedor do Lanús

Com a projeção internacional, vários atletas foram vendidos. O recurso dessas vendas foi utilizado para iniciar o projeto de reforma do estádio, que hoje tem capacidade para receber mais de 47 mil torcedores.

O título que de fato consolidaria a ascensão do Lanús viria em 2007, com a conquista do Campeonato Argentino. Com a mescla entre jovens e atletas mais experientes, o Granate venceu pela primeira vez a liga nacional.

O dinheiro dos títulos era praticamente quase sempre direcionado à infraestrutura. O clube dispõe de vários “anexos” pela região de Lanús, com academias e espaços para esportes.

Título da Sul-Americana

Em 2013, um salto importante com a conquista da Copa Sul-Americana. O Granate havia investido em vários reforços “de peso” no futebol argentino – como Lautaro Acosta, Santiago Silva e Leandro Somoza.

Sob o comando do ex-atacante e ídolo do Boca Juniors Guillermo Barros Schelotto, o Lanús foi transformado em uma instituição de “mentalidade ganhadora”, com um jogo agressivo e protagonista.

Já em 2016, o ex-volante Jorge Almirón assumiu o comando. O argentino não dispunha do mesmo prestígio de Schelotto, mas voltou a causar revolução com uma ideia inovadora de jogo. Ele apostava em laterais muito presentes no ataque e na circulação de bola desde o goleiro – um futebol que viria a encantar todo o país.

Com Almirón, o Lanús voltaria a ganhar o Campeonato Argentino em 2016, chegando ao ápice de sua história em 2017: a final da Copa Libertadores, que terminou com o vice para o Grêmio.

Nomes marcantes daquele elenco eram os paraguaios Gustavo Gómez, que hoje é ídolo do Palmeiras, e Miguel Almirón, figura importante no Newcastle-ING.

“Creio que o bom trabalho da diretoria e as boas compras de jogadores influenciaram muito nos sucessos do clube neste século.”

Mabel Mastroianni, torcedora do Lanús

Dificuldades

Apesar dos sucessos relativamente recentes, o Granate enfrentou dificuldades nos últimos anos em âmbito nacional. Com a saída de diversos jogadores após o vice da Libertadores, o clube teve dificuldades para sustentar um time avaliado como “caro” naquele momento e o elenco foi praticamente desfeito.

Contratações errôneas em janelas de transferências e o “atraso” para contar com uma equipe de análise de desempenho pesaram negativamente. Desde então, o Lanús chegou inclusive a brigar contra o rebaixamento à Segunda Divisão. Ainda assim, com uma equipe majoritariamente composta por jovens, o clube foi vice da Sul-Americana em 2020 diante do Defensa y Justicia.

“Ano a ano, o Lanús vai demonstrando que pode chegar a grandes coisas. É passo a passo. A verdade é que a equipe vai bem.”

Nicolás Batil, torcedor do Lanús

Agora, o Granate volta a encontrar um gigante em uma semifinal continental. No jogo de ida no Mineirão, em Belo Horizonte, o Lanús buscou empate com o Cruzeiro, por 1 a 1.

Diante de uma torcida apaixonada e fiel em um dos bairros que mais “respira” o futebol na Argentina, a Raposa busca a primeira vitória sob o comando de Fernando Diniz para avançar à grande decisão. A partida decisiva entre os times será disputada a partir das 19h desta quarta-feira (30/10).

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