22/11/2024
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Os países que conquistaram em Paris suas primeiras medalhas na história da Olimpíada < No Ataque

Sha'Carri Richardson, Julien Alfred e Melissa Jefferson (foto: Anne-Christine POUJOULAT / AFP)

Os atletas que sobem ao pódio na Olimpíada ganham status de heróis em suas nações. Na natação, o grande nome é o americano Michael Phelps, dono de 28 medalhas (23 de ouro). No atletismo, o maior de sempre é o jamaicano Usain Bolt, detentor de oito ouros e do recorde mundial dos 100 metros rasos (9,58s). Já na luta greco-romana, ninguém é tão soberano quanto o cubano Mijaín López, pentacampeão dos pesos pesados (130 kg).

No rol de lendas também estão aqueles que deram a seus países a oportunidade de festejar a primeira medalha. Em Paris 2024, Santa Lúcia, Dominica e Cabo Verde conheceram os seus ídolos, bem como a equipe formada por refugiados.

Santa Lúcia é um país de 180 mil habitantes em um território de 617 quilômetros quadrados no mar do Caribe. E a primeira medalha da nação situada ao norte da Venezuela e de Trinidad e Tobago veio na prova mais nobre do atletismo – os 100 metros rasos. Julien Alfred completou o percurso em 10.72s e se tornou a mulher mais rápida da Olimpíada, à frente da campeã mundial Sha’Carri Richardson (10.87) e de Melina Jefferson (10.92), ambas dos Estados Unidos.

Julien assegurou outra medalha para Santa Lúcia nos 200 metros rasos. A velocista de 23 anos ficou com a prata ao registrar tempo de 22.08 segundos. O ouro e o bronze foram para as americanas Gabriele Thomas (21.83) e Brittany Brown (22.20).


Julien Alfred comemora vitória nos 100m rasos na Olimpíada (Jewel SAMAD / AFP)

Ao celebrar a conquista olímpica, Julien pediu mais atenção de Santa Lúcia ao esporte. “Esta medalha de ouro é um marco significativo para mim e para meu país. Espero que inspire investimentos em infraestrutura esportiva em casa. Precisamos de melhores instalações para dar suporte aos nossos atletas”.

Desde os 14 anos vivendo na Jamaica, conhecida por ser um grande expoente do atletismo, a campeã falou com emoção do pai, que morreu em 2013. “Ele sempre acreditou que eu poderia realizar meus sonhos. Sei que ele ficaria imensamente orgulhoso de me ver ter sucesso neste palco”.

Se o mundo do atletismo se surpreendeu com as medalhas para Santa Lúcia, o que dirá então sobre Dominica, cuja população é de aproximadamente 72 mil habitantes? A heroína da ilha de 750 km² é Thea Lafond, de 30 anos, com 15,02m no salto triplo.

Além do ouro, Thea alcançou sua melhor marca pessoal, ultrapassando em um centímetro os 15,01m de março de 2024, no Campeonato Mundial Indoor, em Glasgow, na Escócia. Na França, a atleta de Dominica bateu a jamaicana Shanieka Ricketts (prata, com 14,87m) e a americana Jasmine Moore (bronze, com 14,67m).

Tanto Julien Alfred quanto Thea Lafond se aproveitaram de duas ausências importantes nos Jogos Olímpicos de Paris. A jamaicana Elaine Thompson-Herah, bicampeã dos 100 metros rasos no Rio 2016 em Tóquio 2020, e a venezuelana Yulimar Rojas, recordista mundial no salto triplo (15,72m), não estiveram na França por causa de lesões no tendão de Aquiles.


Thea Lafond, medalhista de ouro no salto triplo dos Jogos Olímpicos de Paris (Jack GUEZ / AFP)

Das construções para o pódio olímpico

Do boxe saíram as primeiras medalhas para Cabo Verde – arquipélago de quase 600 mil habitantes perto da costa noroeste da África – e a delegação de refugiados.

A história de David de Pina, de 28 anos, faz parte dos roteiros de drama e superação para ir em busca de um sonho. Pai de uma menina de 4 anos, o pugilista deixou a família em Cabo Verde para buscar melhores condições de treino e preparação em Portugal, uma vez que não recebia o devido apoio esportivo em sua nação.

A bolsa de 700 euros mensais do Comitê Olímpico Internacional já não era suficiente para se manter no país europeu. David, então, precisou trabalhar na construção civil para complementar a renda.

“Tive de fazer muito jogo de cintura. Houve épocas em que deixei de treinar para trabalhar, pois não tinha condições de pagar renda, comida e transportes”

David de Pina, em entrevista ao SIC Notícias, de Portugal


David de Pina, medalhista de bronze para Cabo Verde nos Jogos Olímpicos (MOHD RASFAN / AFP)

Pina treinou em uma academia de boxe em Póvoa de Santo Adrião, em Odivelas, distrito de Lisboa. Responsável pelo espaço, Bruno Carvalho foi um dos grandes apoiadores do medalhista de bronze na categoria até 51 kg.

“Fizemos esse caminho durante três anos. É um feito inédito, top para nós, num clube da periferia de Lisboa, que não é um grande grande, é um clube do bairro. É um feito sensacional”, disse Bruno, técncio de David, também ao SIC Notícias.

Luta contra o preconceito

Se Portugal contribuiu para o bronze de David de Pina, Cindy Ngamba, nascida em Camarões, foi acolhida pelo Reino Unido. Como não possui passaporte britânico, a pugilista da categoria até 75 kg é integrante da Equipe Olímpica de Refugiados.

Cindy não pode retornar a Camarões, pois se assumiu lésbica. O país de origem da boxeadora de 25 anos não permite relação entre pessoas do mesmo sexo, prevendo até cinco anos de prisão e multa em caso de descumprimento da lei.

Sem saber falar inglês quando chegou ao Reino Unido, aos 11 anos, Ngamba enfrentou bullying e solidão na escola até descobrir o boxe em Bolton. Inicialmente, ela teve que lutar com garotos, mas logo começou a viajar para enfrentar meninas. A atleta ganhou o primeiro de três campeonatos nacionais ingleses em 2019.


Cindy Ngamba já garantiu medalha no boxe em Paris (MOHD RASFAN / AFP)

Em Paris 2024, Cindy Ngamba ainda não sabe a cor da medalha. Nesta quinta-feira (8/8), ela encara Atheyna Bylon do Panamá, por uma vaga na disputa pelo ouro. Ao longo do torneio, a pugilista passou pela canadense Tammara Thibeault e pela francesa Davina Michel. No boxe não há disputa pelo bronze – as duas lutadoras derrotadas na semifinal dividem o pódio.

“Quero dizer aos refugiados em todo o mundo — [incluindo] refugiados que não são atletas — continuem trabalhando, continuem acreditando em si mesmos, vocês podem alcançar tudo o que quiserem”.

Cindy Ngamba, em entrevista à Agência da ONU para Refugiados

Nos Jogos de Paris, Cindy é uma das 37 atletas da Equipe Olímpica de Refugiados, criada pelo COI na edição do Rio de Janeiro, em 2016, para dar aos esportistas forçados a deixar os países de origem a chance de competir em alto nível profissional.

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