20/09/2024
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Quem é Eurípedes Júnior, presidente do Solidariedade procurado pela PF e acusado de desviar R$ 36 milhões

Quem é Eurípedes Júnior, presidente do Solidariedade procurado pela PF e acusado de desviar R$ 36 milhões

BRASÍLIA – Presidente nacional do Solidariedade, Eurípedes Júnior é o principal alvo de operação deflagrada pela Polícia Federal na manhã desta quarta-feira (12) para desarticular organização criminosa responsável por desviar e se apropriar de recursos dos fundos partidário e eleitoral nas eleições de 2022.

Os investigados são acusados de lavagem de dinheiro, furto qualificado, apropriação indébita, falsidade ideológica eleitoral e apropriação de recursos destinados ao financiamento eleitoral. Todos integravam o Partido Republicano da Ordem Social (Pros), fundado em 2013 e que em 2023 se fundiu ao Solidariedade.

Agentes foram às ruas nesta quarta para cumprir sete mandados de prisão preventiva, 45 mandados de busca e apreensão no Distrito Federal e em Goiás e São Paulo. Também foi ordenado o bloqueio e indisponibilidade de R$ 36 milhões e o sequestro judicial de 33 imóveis. As decisões são da Justiça Eleitoral do DF.

Há ordem de prisão contra Eurípedes Júnior, mas, até a mais recente atualização desta reportagem, ele não havia sido encontrado e passou a ser considerado foragido.

Por outro lado, agentes prenderam a primeira tesoureira do Solidariedade, Cintia Lourenço da Silva, além de Alessandro, o Sandro do Pros, que foi candidato a deputado federal em 2022.

Há quatro ex-candidatos a deputados distritais pelo Pros alvos da operação desta quarta-feira. A PF diz que eram candidaturas “laranja”, para recebimento de dinheiro do fundo eleitoral. Em apenas uma delas houve um repasse de R$ 2 milhões, enquanto em outra, R$ 1,5 milhão, ainda segundo a PF.

“Por meio de Relatórios de Inteligência Financeira e da análise de prestações de contas de supostos candidatos, foram localizados indícios que apontam para existência de uma organização criminosa estruturalmente ordenada com o objetivo de desviar e se apropriar de recursos do Fundo Partidário e Eleitoral, utilizando-se de candidaturas laranjas ao redor do país, de superfaturamento de serviços de consultoria jurídica e desvio de recursos partidários destinados à Fundação de Ordem Social (FOS) – fundação do partido”, diz a PF em nota.

Compra de helicóptero para uso pessoal

Entre outras coisas, Eurípedes Júnior comprou um helicóptero para uso particular, desviado do fundo eleitoral, segundo a investigação. Adquirida em 2015, a aeronave custou R$ 2,4 milhões, cerca de R$ 5 milhões em valores atuais. Ele usava o helicóptero para deslocamentos de Planaltina de Goiás, onde mora, até a sede do partido, em Brasília – são 38km de distância por terra.

Eurípedes mantinha o helicóptero em um galpão, todo fechado, sem janela, no centro de Planaltina de Goiás, ao lado da sua casa. O aparelho era retirado do imóvel e colocado num terreno vago, ao lado, quando o líder partidário queria usá-lo. Tudo em área residencial, sem nenhuma sinalização ou mesmo isolamento. Mesmo assim, nunca houve qualquer ação contra os pousos e as decolagens.

Em 2022, a aeronave foi localizada em um hangar na zona norte de São Paulo, após desaparecer em meio a investigações sobre uso indevido de recursos do fundo partidário. O Robinson R66 Turbine, assim como imóveis e outros veículos, fazia parte de uma série de aquisições irregulares do Pros durante a gestão de Eurípedes Júnior, segundo apurações do Ministério Público e da Polícia Federal.

Em meio à disputa judicial pelo comando da sigla, o então presidente do Pros, Marcus Holanda, registrou um boletim de ocorrência em que acusava seu antecessor pelo sumiço de bens da legenda avaliados em R$ 50 milhões, entre eles o helicóptero. A aeronave comporta quatro passageiros e tem operação negada para táxi aéreo, segundo dados da Agência Nacional de Aviação Civil (Anac).

Reforma de casa e construção de piscina

Eurípedes Júnior conseguiu, por meio da Justiça, retomar a presidência do Pros. Mas ele não se livrou das investigações. Quando Holanda estava na presidência do Pros, a legenda aprovou o nome do coach Pablo Marçal como candidato à Presidência da República em 2022. De volta ao comando do Pros, Eurípedes vetou a candidatura de Marçal, que hoje se coloca como candidato a prefeito de São Paulo pelo PRTB.

O Pros teve as contas rejeitadas pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE), que o condenou a devolver R$ 2,4 milhões aos cofres públicos em 2017. Investigação do TSE concluiu que Eurípedes usou dinheiro público do fundo partidário em benefício próprio, com a compra do helicóptero e de outros bens de luxo.

A apuração do TSE apontou que Eurípedes Júnior também usou verba pública para reformas em sua casa e construção de uma piscina, além de compras para equipar a residência, como uma banheira de hidromassagem de última geração.

Entre as aquisições estão todos os utensílios de cozinha e insumos típicos de um restaurante profissional. Parte teria sido destinada à Biroska do Churrasco, de propriedade de uma ex-companheira do dirigente partidário.

O Pros confirmou as compras, mas negou que tudo fosse destinado ao restaurante privado. Alegou que as aquisições eram para cozinha montada pelo partido para dirigentes, funcionários e convidados.

Entre os itens comprados com dinheiro público estavam O partido estavam 3,7 mil quilos de carne — cerca de 10 kg por dia, incluindo feriados e fins de semana. Ao todo, foram gastos R$ 135 mil só com comida.

Já entre os utensílios adquiridos com a verba pública havia forno elétrico, 100 pratos de mesa e 100 de sobremesa, facas de açougue, de peixaria, de churrasco, cutelo, jarras, porcelana para sobremesa de creme brûlée, taças de vinho e de água, galhetas de azeite, maçarico de culinária, frigideiras, caçarolas, formas para quindim, bifeteira elétrica, fritadeira, equipamento de bufê de 18 cubas para exposição de alimentos quentes e saladas, máquina com capacidade para produzir 50kg de gelo por dia, entre outros.

Por meio de nota, o vice-presidente do Solidariedade, Paulinho da Força, afirmou que os fatos investigados pela PF e que resultaram na operação desta quarta-feira são anteriores à incorporação do Pros e que o Solidariedade está à disposição para colaborar com a Justiça caso seja necessário.

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